Setembro foi um mês que começou bastante produtivo em leituras. Os primeiros livros lidos do mês foram muito especiais, tornaram-se favoritos e, creio eu que depois deles tive uma certa “ressaca literária”. Assim, começava a ler os livros programados para o mês e nenhum deles fluía. Achava-os chatos, enfadonhos e desinteressantes. Mais para o final, consegui resolver essa “crise” com a Biografia do Tolstói, escrita pela Rosamund Bartlett em conjunto com os contos do autor. Esse estudo da vida e obras do Tolstói ainda está em andamento, pausado durante o mês de outubro, por motivos de cursos literários e pós-graduação, mas que darei continuidade assim que possível.
Comentarei abaixo as leituras do mês de setembro, com breve resumo sobre cada livro e um pouco da minha experiência com cada um deles.
- Blonde, Volume 1 – Joyce Carol Oats (Harper Collins, 2021): Romance baseado na vida da atriz Marilyn Monroe, que conta a trajetória de uma atriz de Hollywood do início do século passado desde a sua infância até a sua morte. É um romance de formação dividido em dois volumes. Comecei a leitura bastante empolgada pois esse livro está na lista da Ferrante e até o momento só vi elogios a ele. Além disso, o romance vai ganhar uma adaptação para a Netflix que estreará em breve. O problema é que a história é tão visceral que chega a dar engulhos. Não consegui emendar um volume no outro e terminei o mês de setembro devendo a leitura do volume 2.
- Paula – Isabel Allende (Bertrand, 2021): Livro de memórias da autora que conta a história de sua família, desde os avós até as gerações atuais. A autora escreveu esse livro para sua filha Paula, que faleceu em 1992, vítima de uma doença degenerativa chamada porfiria. O livro entrelaça a história da família Allende com os principais acontecimentos políticos do Chile durante a ditadura militar. A escrita de Allende é maravilhosa, envolvente e muito fluida. Foi uma das melhores leituras do mês e recomendo esse livro para todo mundo.
- Ciranda de pedra – Lygia Fagundes Telles (Cia das Letras, 2009): Mais um romance da Lygia que conta a história de Virgínia, uma garota que não se encaixa nos padrões de sua família rica e que deseja ardentemente explicações para a vida, a existência e principalmente para as hipocrisias das pessoas. Romance muito envolvente e que critica fortemente o estilo de vida adotado por uma sociedade hipócrita e mentirosa. A autora questiona através de sua protagonista o que as pessoas ganham em seguir padrões com os quais não se identificam apenas por conveniência ou preguiça de lutar pela felicidade e pela liberdade. Também se tornou um dos favoritos do mês e recomendo esse livro para todos, principalmente para quem nunca leu nada da Lygia.
- Feras de lugar nenhum – Uzodinma Iweala (Nova Fronteira, 2006): História narrada em primeira pessoa por um garoto nigeriano que foi “obrigado” a entrar para o exército e lutar em uma guerra civil que ele simplesmente não entende porque está acontecendo. O menino narra suas experiências durante a guerra, as batalhas, a fome, a miséria, as mortes e a falta de sentido de tudo isso. Entremeado ao enredo de guerra, ele relembra sua vida antes da Guerra Civil: sua família, seu pai, que era professor, sua mãe amorosa e dedicada e a fartura que tinham em casa antes de perderem tudo. Esse foi um livro lido para uma das disciplinas da Pós-graduação e analisamos a obra e o seu contexto em aula. Apesar dessa edição estar esgotada, é fácil encontra-la na Estante Virtual. É uma obra potente sob uma outra perspectiva da Nigéria.
- No seu pescoço – Chimamanda Ngozi Adichie (Cia das Letras, 2017): Coletânea de contos dessa autora que dispensa apresentações e que amo demais, também foi uma leitura indicada pela Pós-graduação e estudada em aulas. Temos aqui 12 contos acachapantes sobre diáspora, a vida da mulher negra contemporânea, guerras, perdas, ganhos, vivências e diferenças entre os ocidentais e os orientais. A autora aborda muito a questão do respeito mútuo, da desvalorização da cultura alheia e da submissão dos seus pares que vivem nos Estados Unidos ao sistema de vida estadunidense. Sem dúvida a melhor leitura do mês de setembro (junto aos contos do Tolstói). Leiam Chimamanda sempre!! Ela é necessária!
- Poética – Aristóteles (Editora 34, 2015): Mais uma leitura para a Pós-graduação, comentada em aulas também. Esse é um texto para os apaixonados por literatura e que desejam se aprofundar na teoria da recepção e nas análises críticas de textos literários. Por outro lado, essa obra sintetiza o pensamento de um dos maiores filósofos gregos, podendo gerar o interesse de leigos também. Gostei do livro, mas não amei. Muitas coisas colocadas por ele não me convencem, mas é um referencial em crítica literária.
- O sol e o peixe – Virgínia Woolf (Autêntica, 2015): Mais um livrinho da Virgínia Woolf para a conta! Essa é uma coletânea de ensaios da autora, selecionados pelo maravilhoso Tomás Tadeu e separado em três partes, por assuntos. Nos textos escolhidos ela fala sobre literatura, pintura, doença, urbanidade e tantos outros assuntos triviais e cotidianos, mas de forma lírica e poética, que são a sua marca registrada. Já logo no início do livro, fiz inúmeras marcações e houve um diálogo muito produtivo com esse pequeno grande livro. Para quem quiser aproveitar, ele está disponível no Kindle Unlimited.
- Éramos seis – Maria José Dupré (Ática, 2019): Mais um clássico da nossa literatura, escrito por uma mulher e que tem muito a nos dizer. Temos aqui uma mistura de drama familiar com romance histórico e memórias, narrado em primeira pessoa por D. Lola, a matriarca da família Lemos e que está de volta ao seu antigo endereço na Rua Angélica. Ao ver sua antiga casa, ela se lembra de toda a sua trajetória e conta ao leitor um pouco da história de São Paulo junto à de sua família. Romance curto, mas potente, cheio de referências, com escrita fluida, tragédias e muitas reflexões sobre a vida no início do século passado, mas que infelizmente ainda retrata a vida de muitos brasileiros. Recomendo esse livro para todos!
- Primeiros contos – Liev Tolstói (Cia das Letras, 2018): Antologia com os primeiros contos do escritor russo, que foram publicados em jornais na época em que foram escritos e posteriormente, reunidos em uma coletânea. Tolstói surpreende o leitor com histórias de guerra onde a própria guerra não está presente, mas sim os sentimentos das pessoas que vivem a guerra. Acompanhamos também um senhor de terras que deseja ajudar os seus servos, mas encontra diversos empecilhos para isso, dando-nos uma aula de humildade. Conhecemos alguns músicos que vagam pela Europa tentando ganhar a vida, mas o que recebem mesmo são humilhações e desprezo. E por fim, temos a oportunidade de saber como era a vida dos camponeses russos no final do século XIX, seus sofrimentos, suas agruras, a miséria, a fome, as doenças… o que nos faz refletir sobre os nossos privilégios e repensar a nossa forma de agir junto ao outro. Resumindo essa antologia, poderia dizer que ela nos faz pensar e que nos proporciona reflexões que vão além dos temas abordados pelo escritor, saindo do particular para o universal. Leiam Tolstói! Melhor leitura do mês.