Acredito que comecei o ano com o pé direito em relação às leituras. Depois de muito tempo sem conseguir cumprir minhas metas, janeiro foi um mês com poucas surpresas, onde segui direitinho a lista de livros que separei para ler e foi muito gratificante. Compartilhei com vocês no começo do mês uma lista de 12 livros para ler ao longo do ano e outras metas pessoais que gostaria de seguir para escolher minhas leituras e deu super certo.
No total foram 9 livros lidos, o número de escritores homens e mulheres ficou equilibrado, assim como o formato dos livros também, o que é bastante bom. A maioria esmagadora de livros foram de ficção, do gênero romance, sendo um deles de crítica e interpretação. Consegui desencalhar 7 livros da estante, finalizar a leitura de Os miseráveis, que se arrastava há quase dois anos e terminar a Tetralogia Napolitana da Ferrante, que também estava parada desde o final de 2020. Participei de 4 leituras coletivas, sendo que uma delas ainda está em andamento, portanto, será uma leitura de fevereiro. Estou realmente feliz com as minhas escolhas e vou compartilhá-las agora com vocês!
- História da menina perdida – Elena Ferrante (Biblioteca Azul, 2017): Último volume da Tetralogia Napolitana, que se tornou um dos meus livros da vida, conta a história da maturidade das amigas Lila e Lenu. Conhecemos o desfecho dos personagens, suas vitórias, derrotas, tragédias e conquistas junto ao crescimento de Nápoles e seu desenvolvimento. É um livro pesado, ao mesmo tempo em que é belo, reflexivo e muito instigante. Mais uma vez aconteceu uma forte identificação minha com a Lenu, que continua sendo minha personagem favorita do romance. Em breve farei resenha para os quatro volumes da série, contextualizando tudo por aqui. https://amzn.to/33bX5Px
- Os miseráveis – Victor Hugo (Martin Claret, 2014): Grande clássico da literatura francesa, que dispensa apresentações, conta a história icônica de Jean Valjean, um homem que foi condenado à prisão nas galés por ter roubado um pedaço de pão. Acompanhamos a trajetória do herói junto a outros personagens marcantes, lutando contra a tirania de Jarvet, um policial que não possui capacidade de empatia. Este é um romance de fôlego, muito conhecido no mundo inteiro, principalmente pelas críticas sociais que o autor faz aqui, com ênfase ao sistema prisional na França. É um livro inesgotável, que gera muitas discussões e reflexões no leitor e claro, também se tornou um grande favorito para mim. https://amzn.to/3syB85R
- A tentação do impossível – Mario Vargas Llosa (Alfaguara, 2012): Livro de ensaios do escritor peruano, que contextualiza, analisa e refuta algumas críticas feitas ao livro Os miseráveis de Victor Hugo. A argumentação de Llosa é muito boa, em uma prosa simples, porém inteligente, bem encadeada e que serve como paradigma para qualquer estudante de teoria e crítica literária. Recomendo a leitura após finalizar Os miseráveis, a não ser que o leitor não se importe com spoilers. Já tem resenha para ele no Instagram. https://amzn.to/3GAnX9j
- Adeus às armas – Ernest Hemingway (Bertrand, 2013): Este foi o livro número 1 dos 12 livros que escolhi para 2022. Temos aqui uma história que se passa no período da Primeira Guerra Mundial, narrada em primeira pessoa por Frederick, um norte-americano que se alistou no exército italiano como motorista de ambulância, foi ferido em um ataque e durante sua convalescência, se apaixonou por Catherine, uma enfermeira que cuidou dele durante esse tempo. O enredo do livro gira em torno da história de amor dos dois, com um pano de fundo da guerra. O estilo de narrativa do autor é evidenciado nesta obra pelos não-ditos, que devem ser inferidos pelo leitor e, sem um conhecimento prévio da contextualização histórica, fica difícil compreender as referências que ele faz e o porquê de tantos detalhes que parecem fúteis na história. Infelizmente não foi um livro que amei. Achei apenas ok. Já tem resenha para ele aqui no site. https://amzn.to/3uDYxFz
- Menino de ouro – Claire Adam (Todavia, 2021): Leitura do mês do Clube Leia Latinos e foi uma bela surpresa. Acompanhamos aqui os gêmeos Peter e Paul, onde o primeiro é muito inteligente, se destaca em tudo o que faz, ao passo que o segundo tem dificuldades de aprendizagem e por isso é deixado de lado por seus familiares, como se fosse um peso a ser carregado. Quando os gêmeos estão com 13 anos, Paul desaparece, desencadeando aí o enredo do romance. Através de flashbacks, conhecemos um pouco dessa família, onde a autora aborda temas como ganância, preconceito, desigualdades sociais, diáspora e a vida em Trinidad & Tobago, país natal dela. A escrita de Adam é seca, crua, mas muito bem desenvolvida, com desfechos para todos os núcleos de personagens criados e descrições de ambientes e situações na medida certa. Recomendo muito esse livro para vocês e já tem resenha para ele no Instagram. https://amzn.to/3GzRQH3
- Breve romance do sonho – Arthur Schnitzler (Cia das Letras, 2008): Novela do escritor austríaco que conta a história de um médico provocado por sua esposa a contar-lhe uma fantasia sexual e que termina em tragédia. O autor aborda aqui, em um texto curto, várias questões que levam pessoas comuns a tentarem viver um dia extraordinário e as consequências desses desatinos. Também questiona o ciúme oriundo da insegurança do ser humano, que o leva a um desejo de vingança, que posteriormente ele nem se lembra mais de onde veio tanto ódio e tanto rancor. É um livro curto, mas que desperta muitas reflexões no leitor. Em breve farei resenha para ele no Instagram. https://amzn.to/3uFIuHq
- A porta – Magda Szabó (Intrínseca, 2021): Leitura do Projeto Ferrante Indica, organizado pela Aline Aimée, o livro traz a história de Emerenc, uma zeladora totalmente fora do comum, que vai trabalhar na casa da narradora do romance. Logo no início da narrativa, já sabemos que Emerenc morreu e que a mulher que nos fala se sente muito culpada por isso. A partir de então, a trajetória de vida dessa zeladora nos é revelada aos poucos, em uma narrativa irregular, que vai e volta no passado, mostrando as tragédias que marcaram a vida dessa mulher tão fechada e reservada que é Emerenc. Há um fundo histórico no romance, que começa com a queda do Império Austro-Húngaro, passa pela Primeira Guerra Mundial, pelo entre guerras, pela aliança da Hungria com a Alemanha durante a Segunda Guerra, o massacre dos judeus, a anexação da Hungria à URSS e finalmente, a dissolução do regime soviético. Todos esses fatores são cruciais para a construção da personagem e há um fundo autobiográfico da vida da autora, que foi proibida de escrever durante a ocupação soviética em seu país por ser considerada antissoviética. É um belo romance histórico, com uma ambientação interessantíssima e com um toque de suspense para instigar o leitor. Recomendo muito essa leitura para vocês. https://amzn.to/34zAfln
- O leitor – Bernard Schlink (Record, 2015): Romance alemão ambientado no pós Segunda Guerra, conta a história de Michel, que com apenas 15 anos conhece uma mulher mais velha e vive com ela um romance proibido. Eles se separam, os anos passam e em uma de suas aulas na faculdade de direito, Michel a reencontra em uma situação desconfortável, onde Hanna, seu grande amor da juventude, é acusada por ser responsável pela morte de várias judias nos campos de concentração alemães. A grande questão é que, Hanna é analfabeta e por isso não poderia ser a grande responsável pelo crime que está em julgamento. Porém, suas colegas se aproveitam de sua fraqueza para se livrarem de sua culpa e deixarem que ela pague sozinha por todos os crimes. Michel percebe toda essa jogada e precisa tomar uma decisão: contar ou não ao júri que Hanna não sabe ler e escrever. Ética, moral, as perdas causadas pelo analfabetismo, a situação dos alemães durante a Segunda Guerra, o posicionamento da geração seguinte, dos filhos dos participantes do holocausto, dentre tantas outras questões são abordadas nesse romance sensível e questionador, que nos leva à empatia. Recomendo demais esse livro e também a sua adaptação que é bastante fiel ao romance. https://amzn.to/34tTpsZ
- Os mandarins – Simone de Beauvoir (Nova Fronteira, 2017): Leitura do Leia Mulheres de Campinas do mês, o romance é considerado como a obra-prima de Simone de Beauvoir e conta a história de um grupo de amigos que vivem em Paris e tentam se reencontrar como pessoas após a desocupação da França com o final da Segunda Guerra Mundial. A autora aborda temas políticos e filosóficos nesse gigante da literatura, através de diálogos profundos entre os personagens, onde um expõe a sua ideia, que imediatamente ou um pouco adiante é refutada por outro, promove discussões pertinentes à época e adentra pelos anos seguintes, chegando à guerra fria e às descobertas dos campos de concentração soviéticos, que deixam um enorme vazio de sentido na cabeça dos intelectuais de esquerda da Europa. Há traços autobiográficos na obra, pois alguns personagens se assemelham à própria Simone, ao seu companheiro Sartre e à Camus, amigo do casal, que rompe com eles por divergências ideológicas. Em breve farei resenha desse livraço por aqui, mas já adianto em dizer que este se tornou outro livro da vida, que é próprio para diversas releituras e sempre será inesgotável. https://amzn.to/34tTpsZ