Talvez agosto tenha sido um dos meses mais produtivos e um dos melhores em relação às minhas leituras de 2022. Consegui cumprir o meu principal objetivo, que era finalizar as trocentas leituras em andamento (apesar de algumas ainda estarem inconclusas), porém, foi um enorme progresso com a pilha de livros iniciados e não terminados. Gosto de ter metas e de participar das leituras coletivas. Entretanto, muitas vezes, me comprometo tanto com elas, que acabo não dando conta de tudo e assim, fico com muitos livros começados e não finalizados. Mas, para o meu sossego, essa é uma prática tão comum entre os leitores com os quais convivo e converso, que não tem problemas: um dia, leremos tudo!
Outra coisa que consegui fazer em agosto foi ler livros que eu estava com vontade de ler, ou seja, aquelas leituras espontâneas que surgem no meio do caminho e que muitas vezes deixamos para depois por tantos compromissos que assumimos (conosco e publicamente também) e esses acabam ficando para nunca! Pois é, meus amigos: é assim que a nossa estante fica cheia de livros não lidos, protagonistas daquela máxima clássica da comunidade leitora “quero muito ler esse” ou “vamos ler esse”. Brincadeiras à parte, agosto foi um mês riquíssimo em boas leituras, em favoritos, mas também em grandes decepções literárias. Vamos logo a essa lista recheadas de boas recomendações!
- Maus – Art Spiegelman (Cia das Letras, 2005): História biográfica em quadrinhos, onde acompanhamos Vladek, pai do autor, sobrevivente dos campos de concentração nazistas na Polônia. A trajetória desse homem e de sua família é interessantíssima e podemos perceber quais os aspectos de sua personalidade o ajudaram a sobreviver às atrocidades que provocaram o maior genocídio dos últimos tempos. Recomendo muito a leitura e já tem resenha para ele por aqui.
- A boa sorte – Rosa Montero (Todavia, 2022): Esse foi um dos lançamentos do ano que mais me despertou a curiosidade em ler. Porém, promete muito e entrega pouco. Entre um misto de romance policial e filosófico, a autora apresenta ao leitor uma história cheia de clichês, com um protagonista intrigante e perturbado por seu passado que resolve abandonar a sua vida cheia de privilégios para morar em um apartamento caindo aos pedaços, em uma cidade fantasma, em frente à linha do tem. A sinopse é muito boa e o tema poderia ser abordado de uma outra forma. Ou talvez as minhas expectativas foram altas demais e por isso veio a decepção. Porém, essa é a minha segunda experiência com a Rosa Montero e creio que também a última. Para mim, falta alguma coisa nos livros dela. O texto da autora não me convence e sempre acho que as premissas são boas, mas a execução, nem tanto. Ainda assim, recomendo a leitura. Acredito que para muitos leitores ela proporcionará boas reflexões.
- Bel-Ami – Guy de Maupassant (Estação Liberdade, 2021): Ao contrário do livro anterior, esse me surpreendeu demais positivamente! Também é um livro que eu queria muito ler e quando o vi no Kindle Unlimited, baixei e comecei a ler imediatamente. Qual não foi a minha surpresa com o enredo, com a escrita do autor e com o desfecho da história. Conhecemos aqui um homem comum do século XIX, que deseja ascender socialmente e para isso fará o que preciso for. É um romance que nos faz rir, mas também nos deixa indignados com as atitudes desse pseudo “Bel-Ami”, que passa por cima de tudo e de todos para se dar bem. Segunda-feira publicarei a resenha sobre ele por aqui e conversamos mais sobre esse livraço da Literatura Francesa.
- Contos – Guy de Maupassant (Editora Unesp, 2022): E por ter gostado tanto de Bel-Ami, emendei a leitura de uma coletânea de contos do autor com o romance dele. Nesta antologia brilhante, temos os contos mais conhecidos do escritor, como Bola de Sebo e O Horla. Alguns dos contos foram releituras para mim, que cresceram muito em profundidade e em crítica social. A seleção dos contos dessa edição é muito boa e não tem nenhuma história ruim. Todas são muito interessantes, provocativas e nos levam a reflexões sobre o preconceito, a discriminação, a miséria e os abismos sociais que prejudicam tanto a vida das pessoas. Recomendo fortemente essa leitura para todos.
- A vegetariana – Han Kang (Todavia, 2018): É triste quando finalizamos uma leitura excelente e nos deparamos com uma terrível. Acho que A vegetariana foi a minha pior leitura do ano. Apesar de ter gerado discussões muito ricas no encontro do Leia Mulheres Campinas, esse livro não funcionou para mim. Além dos problemas estéticos que influenciam demais na minha experiência de leitura, a história também não ajuda. Conhecemos nessa novela uma mulher coreana que após um sonho, decidiu parar de comer carne. Nem os seus familiares e nem o leitor conseguem entender os seus motivos para tanto. Porém, essa decisão começa a tomar proporções muito maiores, colocando a vida da protagonista em risco. Um dos grandes problemas dessa história é que só temos acesso à visão dos outros sobre a protagonista e esse aspecto abre portas para muitas discussões e interpretações do romance. Esse é um livro que agrada à maioria dos leitores e por isso recomendo para aqueles que gostam de histórias complexas e sem muito sentido lógico.
- Eneida – Virgílio (Editora 34, 2014): Até o momento, a minha melhor leitura do ano! Apesar desse livro dispensar apresentações, trata-se de uma épica romana, que conta a saga de Eneias, um herói dúbio, humanizado, unindo a mitologia greco-latina com a história de Roma. Essa leitura despertou o meu interesse pela mitologia e por outras histórias épicas. Fiz essa jornada acompanhando as aulas do Professor Rodrigo Tadeu, do Podcast Alia, que estão disponíveis no Spotfy. Isso fez toda a diferença nas minhas inferências em relação ao texto e também na minha compreensão dessa obra tão gigante, que influenciou profundamente a literatura mundial, inclusive Dante em sua Divina Comédia. Em breve, resenha sobre essa preciosidade por aqui.
- O ponto zero da revolução – Silvia Federici (Elefante, 2019): Livro de ensaios da pensadora italiana, onde ela reflete sobre a condição da mulher na sociedade, em relação ao trabalho remunerado e ao trabalho doméstico. Os textos vão do ano de 1975 a 2011, e a autora discute muitos aspectos do trabalho feito por mulheres ao longo do tempo e a sua falta de remuneração justa e principalmente de reconhecimento em relação à sua importância. O livro é incômodo e provocativo porque todas as possíveis soluções encontradas, caem em outros problemas tão acachapantes quanto os anteriores. Saímos de sua leitura sem respostas e com uma porção de dúvidas e questionamentos na cabeça. Essa é uma das características mais importantes de um bom livro de não-ficção. Recomendo demais a leitura.
- Os Buddenbrook – Thomas Mann (Cia das Letras, 2016): Mais um favorito de 2022, nesta saga familiar, acompanhamos algumas gerações dos Buddenbrook, uma família de comerciantes tradicional da Alemanha que enfrenta as mudanças de paradigmas econômicas e sociais pelas quais o mundo passou durante o complexo século XIX. Com ares naturalistas, escrita magnífica e personagens complexos, humanizados e muito verossímeis, o autor conduz o leitor à reflexão sobre família, afeto, casamento, máscaras sociais, destino, mudanças sociais, preconceito e paternidade. Em breve, resenha sobre ele por aqui. Desde já, recomendo demais a leitura.
- Entre amigos – Amós Oz (Cia das Letras, 2014): Mais uma leitura excelente de 2022, neste livro de contos do escritor israelense conhecemos um pouco da rotina e da vida em um kibutz – comunidades comunitárias voluntárias de Israel que objetivavam a fundação do estado. Conhecemos aqui muitos personagens que transitam de uma história a outra, apresentando os sentimentos comuns e universais inerentes ao ser humano. O autor discute muitas situações que marcam a vida no kibutz, mostrando que somos pessoas em qualquer lugar e em qualquer situação. Através de histórias impactantes por sua força ou por sua simplicidade, o autor nos leva a reflexões importantes para a vida em sociedade. Recomendo fortemente a leitura e em breve, resenha sobre ele por aqui.
- Incidente em Antares – Érico Veríssimo (Cia das Letras, 2006): Clássico brasileiro do escritor gaúcho, conta a história de uma cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul e de seus moradores idiossincráticos. A partir de uma rivalidade secular, o autor apresenta os protagonistas que vão conduzir essa história que envolve discussões riquíssimas sobre política, história e principalmente, sobre a liberdade, algo que foi suprimido dos brasileiros à época da publicação desse romance. É um livro que provoca gargalhadas e ao mesmo tempo, nos remete a reflexões pontuais sobre a política brasileira. É uma ótima opção de leitura para ser feita às vésperas das eleições polêmicas desse ano. Em breve, resenha sobre ele por aqui.
Ótimas leituras! Guardei a dica do podcast Alia, pretendo ler Eneida até o fim do ano. Gosto muito do Noites Gregas do prof. Claudio Moreno (começando a série Troia lá, aliás. Recomendo muitíssimo). Estou com Maus na fila desse ano tb. Thomas Mann está sempre nos meus pensamentos, mas ainda não progredi muito na leitura. Enfim… vou parar agora senão não paro mais! Adoro sua estante! 🙂
Nossa, esse mês foi ótimo em relação às leituras. Consegui finalizar muitas coisas pendentes. Eneida já é a melhor leitura de 2022, muito por causa do Podcast Alia. O professor Rodrigo está para lançar as aulas de As Metamorfoses do Ovídeo agora no mês que vem. Vou acompanhar as aulas dele de novo! Já ouvi falar do Noites Gregas também. Vou escutar os episódios. Mitologia e epopeias são mesmo fascinantes! Fico muito feliz em saber que gosta da minha estante e essa troca é sempre muito preciosa: vamos aprendendo umas com as outras. Obrigada pelo apoio de sempre! Bjs.