vida de leitor

Leituras de maio de 2023

Em maio, tive a impressão de que li menos que nos outros meses do ano e isso aconteceu porque eu olhava para a pilha de lidos e via poucas unidades de livros físicos lá e então, pensava que o mês tinha sido mais intenso em vida presencial, eventos, trabalho, estágio e tantas outras atividades, que não tinha sobrado tanto tempo para ler. Porém, ao olhar a planilha, compreendi que na verdade li bastante em maio e mais, finalizei livros incríveis que vinham me acompanhando há muito tempo. Consegui finalmente ler mais devagar, dar o tempo que cada leitura exige, sem tentar devorar os textos a fim de finalizar coisas.

Essa reflexão é importante porque vivemos uma vida louca, cheia de muitos compromissos e tentamos sempre dar conta de tudo, como se fosse uma competição injusta e principalmente inútil. Na última segunda-feira, durante uma das minhas aulas da pós-graduação, a professora se referiu à chamada “Sociedade do cansaço”, tão comentada atualmente na nossa bolha literária. E isso me fez pensar mais uma vez sobre o tema, que é tão urgente para nós como indivíduos e principalmente como sociedade. Na aula, ela afirmou que não existe um cérebro multitarefa e que aprendemos ultimamente a desviar nossa atenção de uma atividade para outra mais rápido que antes. Isso pode parecer bom para a produtividade, mas para a saúde não. Por causa do excesso de atividades e de compromissos da vida contemporânea, vivemos em uma agitação sem fim e isso nos leva a viver sob o efeito de medicamentos para ansiedade, para dormir e para acordar. É preocupante a quantidade de diagnósticos feitos nos últimos tempos e a quantidade de medicações prescritas para problemas que antes eram controlados através da prática de atividades físicas ao ar livre, do convívio familiar, da prática dos nossos hobbies

Assim, chegamos ao que nos interessa aqui: os livros. Eles são para mim um hobby, algo que me relaxa e me deixa feliz. Me sinto descansada quando estou lendo e quando consigo imergir dentro de uma história que me fascina, que me faz pensar, que me ensina alguma coisa. E quando não estamos concentrados na prosa ou no poema, texto, qualquer coisa que seja, não estamos relaxando e sim cumprindo obrigações e esse não é o objetivo. Por isso, no final do ano passado, quando selecionei os livros que eu queria ler, pensei justamente nessa qualidade do momento da leitura, e cheguei à conclusão de que desejava ler menos, porém livros que teriam uma chance maior de eu gostar, investir meu tempo e meu dinheiro nas coisas que eu gosto e não em algo sem sentido e que não me levasse a lugar algum. Em maio consegui esse resultado e fiquei muito feliz com ele. Vamos aos lidos do mês, com direito a um favorito da vida e avaliações altas para a maior parte dos livros finalizados.

  • O alforje – Bahiyyh Nakhjavani (Dublinense, 2019): A partir de nove perspectivas diferentes, conhecemos a história de um alforje misterioso, que vai passando de mão em mão, enquanto compreendemos a trajetória dos personagens que estão atravessando o deserto a fim de chegar em algum lugar por um objetivo determinado. Livro incrível, cheio de reflexões interessantes.
  • Clarissa – Érico Veríssimo (Companhia das Letras, 2005): Primeiro romance do escritor brasileiro, conta a história da protagonista ingênua que dá título ao livro, que aos 14 anos vai morar em um pensionato em Porto Alegre para estudar. Acompanhamos a descoberta do mundo por ela, sob o seu olhar infantil e muitas vezes tolo. Para o leitor de hoje, um livro polêmico em diversos aspectos. A edição contém textos de apoio que ajudam muito na compreensão do tempo e do espaço narrados por Veríssimo.
  • Chama e cinzas – Carolina Nabuco (Instante, 2019): Considerado um dos percursores dos romances feministas, narra a história de Nica, uma moça da alta sociedade carioca no começo do século XX, que faz escolhas objetivas de vida, ao mesmo tempo em que questiona o lugar e o papel da mulher na sociedade. Romance muito bem escrito e que merece ser mais conhecido pelo público brasileiro.
  • Sobre fotografia – Susan Sontag (Companhia das Letras, 2004): Reunião de 7 ensaios onde a autora reflete sobre o papel da fotografia no mundo e na vida das pessoas. É uma antologia irregular, onde alguns textos são excelentes, ao passo em que outros são um tanto enfadonhos. Entretanto, vale muito a pena ler por causa das reflexões que ela propõe sobre algo que atualmente está tão em voga. Escrito na década de 1970, mas se mantém totalmente atual.
  • Assassinato no Expresso do Oriente – Agatha Christie (Harper Collins, 2020): Romance policial, com mais um caso do inesquecível Poirot, onde um assassinato é cometido no trem Expresso Oriente. Para piorar a situação, há uma forte nevasca que impede o prosseguimento da viagem, obrigando o nosso querido detetive a assumir o caso. Ótimo texto, com investigação de qualidade, fluidez e agilidade de um clássico do gênero.
  • A morte em Veneza/ Tonio Kröger – Thomas Mann (Companhia das Letras, 2015): Duas novelas reunidas em um só livro que abordam os temas recorrentes na obra do autor: solidão, isolamento, estrangeirismo e arte. A morte em Veneza conta a história de um professor de meia idade que se apaixona por um jovem de origem asiática durante sua estadia em Veneza. Tonio Kröger apresenta o protagonista que dá nome à novela, um rapaz que deseja ser escritor/ poeta, mas se sente inadequado em seu meio social. Thomas Mann foi um excelente escritor e deixou textos incríveis para a posteridade.
  • A prisioneira – Marcel Proust (Nova Fronteira, 2016): Quinto volume da série Em busca do tempo perdido, acompanhamos o relacionamento problemático de Marcel e Albertine. Há também um desenvolvimento do relacionamento de Charlus e Morel, onde o autor começa a apontar todas as desilusões que o amor pode causar na vida das pessoas. A série só melhora e esse volume em especial é incrível.
  • Poeta chileno – Alejandro Zambra (Companhia das Letras, 2021): Último romance do escritor chileno que fala sobre o cotidiano da vida, sobre o amor, a paternidade e claro, sobre ser poeta no Chile. É um livro que aborda temas complexos com leveza e muito bom humor, cativando o leitor. Mais um livro cinco estrelas para o mês de maio!
  • A vagabunda – Colette (Imã Editorial, 2019): Romance inspirado na história da autora, que conta um recorte da trajetória de René, uma mulher que decidiu deixar o marido abusivo e traidor para ser livre, viver do seu próprio trabalho e bancar seus luxos por conta própria, na Paris de 1910. É uma história que começa muito interessante, mas que do meio para o fim tem uma queda, uma parte um pouco enfadonha. Já o final é um grito de liberdade feminina e vale a experiência da leitura.
  • Guerra e paz – Liev Tolstói (Companhia das Letras, 2017): Romance histórico ambientado no período da invasão napoleônica à Rússia, que aborda tanto a guerra quanto a vida das famílias que continuava acontecendo em meio ao caos mundial. Com personagens memoráveis, cheios de complexidades, o autor nos conduz a uma jornada de reflexões, de mudanças e de enfrentamento da vida. Mais um favorito, cinco estrelas!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *