vida de leitor

Balanço de leituras – Primeiro semestre 2021

À medida em que vamos amadurecendo como leitores, nos tornamos mais conscientes do que gostamos de ler e quais os livros são mais indicados para o nosso perfil de leitor. Gosto de fazer essas análises pois, como leio bastante, muitas vezes não me lembro de tudo o que passou ao longo dos meses, além de perceber com mais apuro quais os meus gêneros preferidos, quais estou deixando de ler e quantos países visitei durante este tempo.

Nos últimos seis meses, li 64 livros. Alguns calhamaços, algumas novelas, livros pequenos e de tamanho tradicional. Notei que nesse ano estou mais propensa a ler livros maiores, passar mais tempo com os personagens e mergulhar nas histórias longas. Fato que no ano anterior era raro para mim. Me encontrava em um momento de bastante ansiedade, onde precisava finalizar livros como uma metáfora para conclusão e concretização de projetos na vida pandêmica.

Iniciei o ano com muitas metas – coisa que não funciona bem para mim. Percebi que cada livro tem a sua hora, o seu momento e que ler uma obra por “obrigação” é algo muito desagradável e que interfere de forma contundente na nossa experiência de leitura. Por isso, muitos livros foram abandonados e outros que eu nem imaginava ler por esse ano foram lidos e favoritados. Participei de algumas leituras coletivas que foram muito ricas em conteúdo e discussões, conheci novos escritores, mergulhei nas obras de outros já apreciados e fiz também algumas leituras de trabalho, que me trouxeram grandes surpresas e aprendizado.

Fiquei devendo um pouco em estudos sobre Teoria Literária e Feminismo, que eram duas metas de 2021. Entretanto, tive fortes motivos de ordem pessoal para não me aprofundar nesses estudos no momento, algo que ficará para um futuro próximo. Consegui ler muitos livros que estavam parados na estante há muito tempo e isso foi gratificante. Também li muitos livros novos que foram aparecendo ao longo dos meses e está tudo bem em relação a isso. O importante é ler o que nos traz felicidade e o que sentimos vontade de ler em cada momento da vida.

O gênero que mais li no primeiro semestre de 2021, foram os clássicos. Praticamente metade das minhas leituras do ano foram de livros clássicos, somando 23 títulos. Em segundo lugar, foram os romances contemporâneos com 17 títulos. Posteriormente, em terceiro, 6 livros de suspense/ mistério. Consegui viajar por 21 países sem sair de casa. Porém, os mais lidos foram, surpreendendo um total de zero pessoas, Brasil (12 livros), Estados Unidos (12 livros) e Inglaterra (11 livros). Dos 64 livros lidos ao todo, 12 se tornaram favoritos da vida e, falarei um pouco sobre cada um deles nesse post. Os títulos estão em ordem de leitura e não de preferência. Cada um deles se tornou muito importante para mim por motivos diversos e por isso não existe um “pódio” para eles.

  1. Os anos – Annie Ernaux (França): Esse é um livro de memórias da escritora onde ela conta sobre a sua vida, através dos acontecimentos políticos e das grandes mudanças e transformações ocorridas no mundo, desde a década de 1940 até 2000, chegando aos atentados do 11 de setembro. Se tornou um favorito porque gostei muito da escrita de Ernaux e da forma como ela costura os acontecimentos privados aos eventos mundiais e principalmente, como essas situações coletivas interferem na vida do cidadão comum.
  2. Crime e castigo – Fiódor Dostoiévski (Rússia): O livro conta a história de Raskolnikov, um estudante de Petersburgo em crise entre o niilismo e a eslavofilia e que se revolta contra a opressão vivida nas grandes cidades. Motivado por seus instintos, ele mata uma mulher e precisa lidar com as consequências de seu crime. Se tornou um favorito por causa das discussões profundas que o autor propõe em seu texto. O livro tem personagens memoráveis e deixa uma mensagem muito reflexiva sobre nós como agentes no mundo.
  3. Vida querida – Alice Munro (Canadá): Antologia de contos da escritora que fala sobre a vida, o cotidiano das pessoas. Munro parte de um ponto central, que nesse livro são as doenças, o envelhecimento e as memórias para dialogar com o leitor e leva-lo à reflexão sobre os momentos preciosos da vida, quais são as nossas lembranças mais caras e como guarda-las da melhor forma possível. Se tornou favorito porque a autora tem a capacidade de captar os sentimentos humanos coletivos e coloca-los no papel de forma estupenda. Me identifiquei com muitos personagens e por outros, senti muita empatia.
  4. 4321 – Paul Auster (Estados Unidos): O autor propõe escrever quatro romances dentro de um só, oferecendo a um personagem a oportunidade de ter quatro destinos diferentes. O que achei mais interessante nesse livro foi o fato do autor conseguir manter a coerência e a essência dos personagens que criou nas quatro histórias. Se tornou um favorito porque esse livro me fez pensar muito sobre a nossa responsabilidade em relação às pessoas que estão à nossa volta, além de trabalhar um tema que me é muito caro: as possiblidades.
  5. Doutor Fausto – Thomas Mann (Alemanha): Nesta obra-prima da literatura alemã, conhecemos o músico Adrian Leverkhun, um rapaz solitário, que desejava ser lembrado e imortalizado por sua obra. Porém, para conseguir esse feito, precisa fazer coisas nada convencionais e um tanto inortodoxas para se destacar da multidão. No fim, percebemos que este livro é uma alegoria sobre a Alemanha nazista. Se tornou favorito por motivos óbvios: é Thomas Mann, a história é embasbacante e faz pensar muito sobre diversas coisas. O conjunto da obra aqui é fabuloso, tanto a escrita, quanto a narrativa, o narrador e os personagens são muito bem feitos. Isso sem contar a erudição do autor, que dá um tom a mais à essa história sensacional. Além de ser um livro desgracira, bem do jeito que eu gosto.
  6. Diários da Virgínia Woolf – Volume 1 (Inglaterra): Neste primeiro volume dos diários de uma das minhas escritoras favoritas da vida, conhecemos um pouco de seu íntimo, dos seus pensamentos, digressões e também algumas inspirações para os seus futuros romances. Temos também um panorama da Primeira Guerra Mundial e como ela afetou o cidadão comum na Inglaterra. Se tornou favorito porque foi um livro que eu não conseguia largar. Me encantou o estilo da Virgínia jovem, o lirismo de sua escrita e os traços de sua personalidade impressos ali. Foi um livro que me deixou feliz.
  7. O apanhador no campo de centeio – J. D. Salinger (Estados Unidos): O livro conta a história de Holden, um jovem problemático que está descobrindo as mazelas do mundo, perdido por Nova York. Ele vai contando sua história e dividindo suas aflições com o leitor ao longo da prosa e nos mostrando uma série de problemas sociais que ainda precisam de solução. Se tornou favorito por causa das reflexões que ele me proporcionou. Foi outro livro que eu não conseguia largar e com o qual me identifiquei bastante, além de conseguir visualizar muitas pessoas que conheço no Holden.
  8. Grande Sertão: Veredas – Guimarães Rosa (Brasil): Acompanhamos nesse sertão a trajetória de Riobaldo e Diadorim, dois jagunços que estão seguindo viagem pelo interior do Brasil a fim de vingar a morte do amigo Zé Bebelo. Eles vão enfrentar o bando dos Hermógenes, que são vistos como pessoas ruins. A partir dessa premissa, o autor vai discutir muitos temas importantes e interessantes, principalmente as desigualdades sociais e as questões metafísicas que comandam a vida do homem. Se tornou favorito simplesmente porque é impossível atravessar esse sertão e não o amar.
  9. Gostaria que você estivesse aqui – Fernando Scheller (Brasil): O livro conta a história de cinco protagonistas em busca de algum desejo: Inácio, que deseja conquistar Baby; César em busca de sua sexualidade; Baby representando uma geração de mulheres que desejavam uma ruptura com os valores tradicionais impostos pela sociedade patriarcal da época; Selma que desejava manter sua família unida e Rosalvo que precisa vingar a morte de sua filha Eloá. O cenário da história que se cruza ao longo da trama é o Rio de Janeiro da década de 1980, abordando o cenário musical e a luta contra a aids. Se tornou favorito por trazer tantas referências importantes para mim e captar um sentimento comum da época, proporcionando muitas reflexões sobre a vida.
  10. Uma vida pequena – Hanya Yanagihara (Estados Unidos): Conta a história de quatro amigos que se conhecem na faculdade e seguem juntos na vida adulta. Cada um à sua maneira é capaz de conquistar o leitor e trazer um panorama da sociedade norte-americana, principalmente sobre os estrangeiros ou descendentes de estrangeiros que vivem no país. As referências da autora e a sua erudição são um ponto altíssimo da obra. Conhecemos a cidade de Nova York através dos olhos de pessoas diferentes, em situações diferentes e com vidas diferentes. Se tornou favorito por sua grandiosidade literária, pela forma que a autora resolveu contar essa história e também por seu conteúdo, que me fez ter diversas reações ao longo da jornada de leitura. Me proporcionou diversas reflexões e aprendizados.
  11. A Senhora de Wildfell Hall – Anne Brontë (Inglaterra): Neste livro acompanhamos a história de Hellen, uma moça que foi viver em uma casa desabitada por muitos anos e causou um certo furor na cidadezinha local onde fica a propriedade. A verdadeira Hellen vai se mostrando através do narrador Gilbert e de entradas do diário da protagonista. Se tornou favorito devido às reflexões proporcionadas pela leitura e principalmente, pela coragem da autora em escrever um texto como esse na Inglaterra Vitoriana.
  12. Memorial de Maria Moura – Rachel de Queiroz (Brasil): Temos aqui uma grande anti-heroína que vai enfrentar tudo e todos para conquistar seus objetivos, sem “ser criada de ninguém”. A autora apresenta uma protagonista forte e determinada, além de outros núcleos de personagens muito ricos e bem desenvolvidos e que vão dando um tom à essa epopeia brasileira. Se tornou favorito porque foi uma grande surpresa boa: a história é forte, comovente e bem construída; os personagens são verossímeis e críveis e faz uma grande crítica social à época em questão, o final do século XIX.

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