crítica

Diários Virgínia Woolf – Volume 1 (1915/ 1918)

Não é segredo para ninguém nesse blog o quanto eu amo textos autobiográficos tais como memórias, diários e afins. Melhor ainda quando esse diário é simplesmente de uma das minhas escritoras favoritas da vida, Virgínia Woolf. Ao saber que a Editora Nós iria publicar todos esses livros, fiquei muito feliz e não esperei nem um minuto a mais para começar a ler, assim que o meu exemplar chegou em minha casa. Este fato já me remeteu à uma memória afetiva, dos tempos em que eu comprava um livro e corria para ler de tão empolgada por ele.

Ultimamente, escolher um livro na estante para ler tem se tornado uma saga. Muitos que tenho, já até perdi a vontade de ler e o bombardeio de informações através das redes sociais contribui bastante para o aumento da ansiedade e o desejo de finalizar leituras, realizar outras consideradas obrigatórias e a soma desses fatores, muitas vezes tiram o nosso prazer de ler, de chegar do trabalho ansiosa para ler um livro, não querer dormir para terminar mais um capítulo… Estes são alguns episódios da vida de leitores do mundo inteiro e que compartilho aqui com vocês porque é algo muito presente nesse primeiro volume de diários da Virgínia.

Os relatos têm início em 1915, pouco depois do casamento com Leonard. E a partir de então, vamos conhecer o casal no seu dia a dia, as reuniões com amigos, os jantares, a rotina de trabalho, as frustrações, as leituras, o incômodo inverno inglês, as saídas para colher amoras e cogumelos, além dos reflexos da Primeira Guerra e dos pensamentos mais íntimos da escritora. Virgínia já mostra de cara sua habilidade com as palavras, o lirismo de sua escrita e os primórdios de seus futuros romances e ensaios nessas entradas diárias.

Este volume termina junto ao fim da Primeira Guerra, então, é possível acompanhar sob a ótica de uma cidadã comum os estragos dessa barbárie na vida de seus amigos e dos filhos de amigos. Fica claro para o leitor como esses eventos posteriormente se transformaram em romances, muitos trechos nos lembram imediatamente Mrs. Dallowey e Ao farol, obras bastante conhecidas da Virgínia. De forma muito natural e a partir do ponto de vista de uma outsider (Leonard não foi convocado para a guerra), observamos a escassez de produtos e alimentos em Londres, o uso dos cartões de racionamento e em diversas vezes sua inutilidade, a frustração dos cidadãos comuns em relação à situação do país e do mundo, o sentimento de perda e de dor compartilhado por todas as pessoas envolvidas de uma forma ou de outra na guerra.

Conhecemos também nesse volume de escritos os amigos do casal e a opinião de Virgínia sobre as pessoas. Confesso que em alguns trechos fiquei um pouco constrangida pelos adjetivos pejorativos utilizados por ela para descrever as pessoas. Entretanto, conhecer nossos artistas favoritos em sua intimidade é isso, descobrir que eles são pessoas, como nós mesmos, têm defeitos e pensam sim “coisas feias”.

Finalizei a leitura com gostinho de quero mais, e se todos os diários já estivessem disponíveis, emendaria a leitura de um no outro para saber mais sobre a Virgínia e conhecer o desenvolvimento de sua trajetória como mulher, ativista e escritora. Suas palavras são belas e cheias de encantamento. No final desse volume, ela finalizou a escrita de seu primeiro romance, escreve resenhas críticas para o The Times e trabalha com Leonard na tipografia. Outro momento muito legal de acompanhar nos diários é a busca pela casa ideal para a tipografia. Acompanhar o trabalho deles também é fascinante e saímos da leitura com uma porção de indicações de livros para ler.

O trabalho de edição dessa obra foi primoroso. A tradução de Ana Carolina Mesquita foi muito criteriosa e fez parte de sua pesquisa de doutorado. Ela teve acesso aos originais e realizou todo o trabalho com base neles, preservando ao máximo as ideias, pensamentos e reflexões da Virgínia, inclusive sua pontuação, fluxo de consciência e adendos. O trabalho gráfico também ficou belíssimo, com tons de dourado e bege pastel, oferecendo à obra toda a classe que esteticamente relacionamos a ela. É um deleite para os fãs de Woolf e para os leitores em geral.

2 thoughts on “Diários Virgínia Woolf – Volume 1 (1915/ 1918)”

  1. Que delícia! Deu vontade de ler imediatamente também! Como você, também amo textos autobiográficos. Parabéns pelo blog!

    1. Já estou ansiosa pelos próximos volumes desses diários! 😍
      Fico muito feliz por ter gostado do blog e dos textos. Beijos.

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