vida de leitor

Leia Mulheres Campinas – Meus cinco livros favoritos

Após observações e pesquisas, ficou claro que lemos muito mais escritores homens que escritoras mulheres. Isso se deve a muitos fatores, tais como o silenciamento das mulheres ao longo do tempo, o mito de que os homens escrevem melhor que as mulheres e o mercado editorial que privilegia os homens, mesmo que sem perceber. Essa discrepância entre os gêneros acontece desde que o mundo é mundo. Pensando nisso, as leitoras Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques, incentivadas pela #readwoman2014, criada por Joanna Walsh, fundaram o Leia Mulheres, propondo reuniões mensais em livrarias de São Paulo.

Em pouco tempo, o projeto cresceu e atualmente, há grupos do Leia Mulheres no Brasil inteiro. Antes da Pandemia de Covid-19, as reuniões eram presenciais. Porém, até que voltemos à vida normal, os encontros estão acontecendo online. O objetivo desse projeto é ler um livro por mês, escrito por uma mulher e depois discuti-lo em grupo. É um clube do livro, mas com o propósito de ler mulheres.

A curadoria de Campinas é feita por Michelle Lopes e ela escolhe livros escritos por mulheres que são pouco falados no meio literário, dando voz a estas escritoras e nos desafiando a conhecer novas culturas, estilos de escrita, de narrativas e principalmente, nos permitindo a oportunidade de refletir sobre o mundo, as diferenças e reconhecer os nossos privilégios. Para participar desse projeto, basta acessar o site do Leia Mulheres e encontrar a curadora de sua cidade.

  1. Simone de Beauvoir, uma vida – Katie Kirkpatrick (Crítica, 2020): Como boa amante de biografias, gostei demais de conhecer um pouco da vida de Simone de Beauvoir. A escrita da Katie é excelente, fluida e ela conta a vida da filósofa de forma imparcial, mas sem deixar de mostrar ao leitor o quão gigante foi essa mulher. A leitura da biografia ajudou bastante na compreensão de suas obras e de seu pensamento.
  2. Ao mesmo tempo – Susan Sontag (Cia das Letras, 2008): Último livro de ensaios da Susan publicado postumamente. Foi também o meu primeiro contato com a autora, pela qual me apaixonei e já quero ler tudo o que escreveu. Neste livro, ela aborda temas voltados a literatura e à forma como nos relacionamos com os textos e que eles se relacionam com o mundo. Gerou um belo debate no grupo.
  3. O melhor tempo é o presente – Nadine Gordimer (Cia das Letras, 2014): A história desse belo romance se passa na África do Sul pós-apartheid e vai contar a trajetória de um casal inter-racial em busca de uma vida melhor no seu país para criar seus filhos. A autora aborda várias questões políticas e mostra ao leitor como é a vida em um país subdesenvolvido, como a violência se instala, a pobreza e as dificuldades para reconstruir uma nação desolada pela guerra. Nem preciso dizer o quanto eu amei esse livro. Porém, faço uma advertência a quem for ler para uma narrativa em muitos momentos fastidiosa e não linear. Mas, vale muito o esforço.
  4. Nossa Senhora do Nilo – Scholastique Mukasonga (Nós, 2017): Outra escritora que conheci no Leia Mulheres e que já quero ler tudo o que ela escreveu. Nesse livro, a autora conta a história de algumas meninas ruandesas que estudam no colégio Nossa Senhora do Nilo. Através de uma prosa envolvente, a autora relata o cotidiano das estudantes até o dia em que começa o genocídio de Ruanda. É um bom livro para compreender o que houve no país e principalmente, a rixa entre os povos hutu e os tutsis. Quem estudou em colégios católicos vai reconhecer muitas referências e passagens narrados pela autora neste livro.
  5. Perto do coração selvagem – Clarice Lispector (Rocco, 2020): A protagonista desse clássico de Clarice é Joana, uma órfã que possui um espírito livre e que enfrenta dificuldades para se encaixar no mundo e viver de acordo com as regras impostas pela sociedade. O livro é bem complexo, aborda muitos sentimentos femininos e tem um final incrível. É uma obra com diversas camadas, em que a cada releitura descobrimos alguma coisa que passou batido em uma leitura anterior, possibilitando várias interpretações. Esse foi o primeiro romance da escritora que já estreou causando um forte impacto na crítica e no público.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *