vida de leitor

Leituras de abril 2023

Apesar da seleção de livros lidos em abril ter sido incrível e fantástica, infelizmente, o balanço das leituras do mês me deixou bastante frustrada. No final do primeiro trimestre, fiz um apanhado dos livros lidos e daqueles que eu ainda queria ler até o final do ano e logo percebi que minhas metas pessoais estavam ficando para trás, que eu estava lendo uma porção de coisas que não faziam parte delas e que eu precisava me organizar melhor para dar conta de tudo.

Não quero dizer com isso que a leitura deve ser um fardo, que precisamos seguir uma lista de livros para ler e nunca sair disso. Porém, quem é leitor vai compreender esse meu dilema: ao mesmo tempo em que as leituras espontâneas nos trazem grandes surpresas, elas exigem muitas vezes que compremos os livros, pois nem todos estão disponíveis na nossa biblioteca. Dessa forma, aqueles que foram comprados antes para serem lidos em breve, vão ficando na estante, esquecidos lá. Muitas vezes, demoramos a pegá-los e isso vai provocando uma certa ansiedade à medida em que nos conscientizamos que não temos tempo para ler tudo o que gostaríamos de ler.

E então, como escolher os “eleitos”, aqueles que vão fazer parte das leituras do mês e que realmente devem passar na frente dos outros? É bem difícil fazer essas seleções porque alguém vai ficar de fora. E nesse caso, existe também uma certa cobrança para lermos determinadas coisas, priorizar as mulheres, os contemporâneos, os negros e os países fora do eixo Estados Unidos/ Europa. Mas onde entra aqui as nossas preferências?

Em abril li 11 livros, todos eles de ficção, o que me deixou descontente porque um dos meus gêneros literários favoritos são os ensaios e eu simplesmente não li nenhum livro nesse formato em 2023. Dos 11 livros, dei 5 estrelas para 3 deles – O que você está enfrentando, Maria Altamira e O senhor presidente. Dos três, apenas 1 se tornou um favorito. Os outros livros lidos, ficaram entre as 3 e 4 estrelas, alguns deles, como Judas e O avesso da pele, me proporcionaram diversas reflexões. Ao passo em que Floradas na Serra e As intermitências da morte, apenas na hora de escrever a resenha, eu percebi o quanto gostei dessas leituras.

Os livros têm a capacidade de nos surpreender, tanto positivamente, quanto de forma negativa. Mas o fato é que, dos 11 livros lidos, apenas 7 deles mereceram destaque nessa introdução. A pergunta é: se eu lesse apenas 7 livros excelentes, eu os aproveitaria mais do que lendo os 11 livros e esquecendo de 5? Quais são as leituras coletivas que eu realmente consigo participar de verdade? Não adianta estar lá, mas não aproveitar a riqueza que elas oferecem.

O destaque desse mês fica a cargo da leitura coletiva de O senhor presidente, mediada pela Denise Mercedes e que se tornou um dos meus livros favoritos do ano. Por outro lado, revi bastante as minhas escolhas para o próximo mês e espero que os ensaios, as biografias, as HQ’s, os contos e a Literatura Russa voltem a aparecer por aqui. Afinal, elas constituem as minhas grandes preferências literárias. Agora, vamos aos lidos de abril!

  • O que você está enfrentando – Sigrid Nunez (Instante, 2021): Uma escritora se muda para uma cidade pequena a fim de acompanhar sua amiga que está com câncer, enquanto isso, ela encontra pessoas pelo caminho que também estão travando uma batalha diária.
  • Maria Altamira – Maria José Silveira (Instante, 2020): A partir de duas protagonistas, Aleli, a mãe e Maria Altamira, a filha, acompanhamos a jornada dessas personagens junto com a construção da usina de Belo Monte e a degradação da região do Xingu.
  • Judas – Amós Oz (Companhia das Letras, 2014): O jovem Shmuel vai trabalhar na casa de um senhor misterioso e lá aprende muito sobre o início dos conflitos israelo-palestinos, enquanto faz a sua pesquisa sobre Judas Iscariotes e o legado que deixou ao povo judeu.
  • A autobiografia da minha mãe – Jamaica Kincaid (Alfaguara, 2020): Xuela perdeu a mãe quando nasceu. Foi criada pelo pai e sua esposa, mas nunca se sentiu pertencente à essa família. Em uma tentativa de compreender a própria história, ela cria memórias para a sua mãe, que na verdade falam mais sobre ela mesma.
  • O avesso da pele – Jeferson Tenório (Companhia das Letras, 2020): Ao perder o pai vítima de uma operação policial, Pedro lhe escreve uma carta, criando memórias e um passado tanto para o pai, quanto para a mãe, narrando uma trajetória de perdas, com base no racismo estrutural.
  • As intermitências da morte – José Saramago (Companhia das Letras, 2020): Distopia que fala sobre a ausência da morte durante trinta dias em um país não determinado. O autor apresenta as diversas possibilidades de conflitos que podem advir dessa falta de óbitos por um longo prazo, além de propor reflexões sobre a nossa existência e o nosso modo de viver.
  • Floradas na serra – Dinah Silveira de Queiroz (Instante, 2021): Após ser diagnosticada com tuberculose, Elza se muda para Campos do Jordão a fim de fazer um tratamento paliativo. Ali conhece pessoas que travam a mesma batalha que ela e que tiveram suas vidas e sonhos da juventude interrompidos pela doença.
  • A promessa – Damon Galgut (Record, 2022): Em seu leito de morte, Rachel faz uma promessa à Salomé, ajudante que lhe acompanhou ao longo da vida, que deve ser cumprida por sua família disfuncional. Ambientado na África do Sul durante e pós-apartheid, o drama familiar contempla as dificuldades sociais e econômicas que o país enfrenta.
  • Ruína y leveza – Júlia Dantas (Dublinense, 2015): Sara é uma publicitária que está passando por um momento de perdas em sua vida pessoal e profissional. A fim de se restabelecer emocionalmente, resolve fazer um mochilão pela América Latina, começando pelo Peru, onde fará grandes descobertas sobre si e sobre os outros.
  • O senhor presidente – Miguel Ángel Astúrias (Mundaréu, 2016): Romance de ditador, que mostra as aflições de uma população sem esperanças, onde qualquer passo em falso pode ser fatal e significar a morte. Traições, assassinatos, loucura, perseguição e armadilhas fazem parte do contexto criado pelo escritor e narrado magistralmente, com o uso de figuras de linguagem que deixam o texto ainda mais especial.
  • Terra fresca da sua tumba – Giovanna Rivero (Jandaíra, 2021): Coletânea de contos que tratam sobre a morte e a loucura a partir de memórias que são ativadas com o objetivo de ressignificar os acontecimentos sombrios da vida dos personagens que compõem essas histórias.

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