Comecei o mês empolgada com algumas leituras coletivas das quais pretendia participar e outras que desejava fazer há algum tempo. Porém, algo muito ruim aconteceu logo nas primeiras semanas e as metas foram por água abaixo. A cada dia que passa, tenho mais certeza de que o nosso estado de espírito vai ditar a classificação de damos para um livro e o nosso diálogo com ele. Nunca imaginei que em um momento difícil, os livros de não-ficção me fariam bem. E sim, fiquei em uma zona de conforto, lendo ensaios, memórias e Alice Munro. No final de julho, a vida começou a voltar a um novo normal e as leituras voltaram a fluir. A vida é assim mesmo, cheia de surpresas boas e ruins e nós que lutemos para dar conta dela! O mais importante é ler o que temos vontade e no momento em que sentimos o livro nos chamar.

1. Oliver Twist – Charles Dickens (Principis, 2019): Clássico da literatura vitoriana, Oliver Twist é um garoto órfão que vai enfrentar uma vida difícil vivendo sob a tutela do governo. Após fugir do abrigo de pobres, ele vai desbravar a moderna Londres e suas agruras. O ponto alto da obra é a escrita do autor, a narrativa fluida e cheia de aventuras, com reflexões sobre o comportamento humano, a falta de empatia e a resiliência de alguém que deseja ser bom, mesmo em meio a tantas tentações.
2. A ridícula ideia de nunca mais te ver – Rosa Montero (Todavia, 2019): Romance autobiográfico da autora que faz uma reflexão sobre a morte e o luto, em paralelo com a história da cientista Marie Curie. Montero aborda de forma humana as questões sociais que envolveram a vida de Curie e compara a morte do marido dela, Pierre com sua própria perda. Comovente e sincero, é um livro que nos faz pensar sobre os tabus da nossa sociedade quando se fala de morte.
3. O ano do pensamento mágico – Joan Didion (Harper Collins, 2018): Livro de memórias da jornalista que conta o ano após a morte de seu marido John e as dificuldades que ela enfrentou tentando lidar com a perda. Muitas situações colocadas pela autora nos remetem a sentimentos universais, mas que geralmente não são expostos. É um livro sincero, visceral e muito triste, mas que ajuda muito as pessoas que estão em processo de luto a se sentirem parte de alguma coisa, percebendo que não estão sozinhas em sua dor.
4. Blue Nights – Joan Didion (Harper Collins, 2018): Livro que dá sequência ao Ano do pensamento mágico, também de memórias, mas que aborda a relação de Didion com sua filha adotiva Quintana, que logo após a morte do pai, foi internada novamente, vítima de uma doença degenerativa e faleceu um tempo depois. O livro é uma ode à Quintana. Didion relembra momentos da infância da filha, da vida de casada e do início de sua carreira de uma forma melancólica e bela. Para quem também é mãe, as situações colocadas pela autora são muito familiares, principalmente o medo eterno de perder esse ser tão precioso que é um filho. Eu simplesmente amei esse livro.
5. Ódio, amizade, namoro, amor, casamento – Alice Munro (Biblioteca Azul, 2013): Coletânea de contos da autora, que tem como tema principal o envelhecimento, a morte e as expectativas frustradas das mulheres em relação aos homens. Acompanhamos muitas jovens que saem de suas casas no interior para tentar a vida nas grandes cidades. Além disso, a autora aborda de forma magnânima e estupenda a ambiguidade de sentimentos dessas mulheres que terminam por se casar, com a esperança de liberdade e felicidade, mas que são surpreendidas por infortúnios e desconfortos que não são falados nos contos de fadas. Livro belíssimo e com mensagens transformadoras. Destaque para os contos Mobília de Família (citado em A ridícula ideia de nunca mais te ver) e O urso atravessou a montanha.
6. As inseparáveis – Simone de Beauvoir (Record, 2021): Romance autobiográfico da autora, onde ela conta a sua história de amizade com Zaza, que faleceu aos 22 anos. O livro foi escrito entre os anos de 1954/ 1958 e só foi publicado esse ano, postumamente, pois a autora não achava adequada a sua publicação. Apesar de trocar todos os nomes dos personagens, eles são reconhecíveis para qualquer um que conheça um pouco da biografia da autora. Neste romance, algumas curiosidades das pessoas sobre a morte precoce de Zaza são esclarecidas e fica claro que esse fato foi fundamental para que ela desenvolvesse os temas contidos na sua obra-prima de não-ficção, O segundo sexo.
7. Aprendendo a ler com os animais – Carolina Felicori (Adonis, 2021): Livro infantil para crianças em fase de alfabetização, escrito por minha querida amiga Carol. São 30 histórias, divididas em três fases de aprendizagem e aquisição da leitura, proporcionando às crianças uma leitura agradável, de acordo com a sua fase leitora. As histórias contêm informações sobre os animais e vão ficando maiores à medida em que a criança consegue manter a atenção por mais tempo no texto. Destaque para o trabalho de oralidade dos textos que ficou maravilhoso!
8. 24 horas na vida de uma mulher e outras histórias – Stefan Zweig (Nova Fronteira, 2018): Coletânea de 9 novelas do autor, divididas em duas partes, sendo a primeira Novelas da adolescência e a segunda Novelas de Sofrimento. A seleção foi feita por Alberto Dinis, considerado o maior pesquisador e especialista na obra do escritor e tem como objetivo mostrar ao leitor o crescimento da escrita e do desenvolvimento narrativo de Zweig. Na primeira parte, o tema central são as paixões juvenis e a passagem da infância para a adolescência. Na segunda parte, o tema são as tragédias e a fugacidade da vida e do destino. Destaque para as novelas Segredo Ardente da primeira parte e Amok da segunda parte.
9. Três novelas femininas – Stefan Zweig (Zahar, 2014): Coletânea também organizada por Alberto Dinis, com o objetivo de apresentar ao leitor três mulheres inesquecíveis criadas por Zweig. Duas dessas novelas estão na coletânea anterior, mas ganham nova roupagem com a tradução feita por Adriana Lisboa. O destaque dessa edição, vai para a novela de abertura, Medo. O desenvolvimento psicológico da personagem é magnífico. Se tornou uma das minhas novelas favoritas da vida. Gostei demais desse livro e recomendo como uma porta de entrada para a obra do autor.