vida de leitor

Leituras de Julho de 2022

Ao contrário do mês passado, julho foi um caos de leituras. Porém, apesar de todos os fura-filas, finalizei a maior parte das metas do mês e também comecei a leitura de outros que ainda não foram concluídos. A quantidade de leituras aleatórias aconteceu por causa da Bienal do Livro, de onde eu trouxe sete títulos e um deles foi lido imediatamente. Além disso, teve lançamento do livro da Juliana Cirqueira aqui em Campinas e por isso, comprei o livro dela e também o li no mesmo dia. A Companhia das Letras fez aquela promoção de 50% de desconto e assim, aproveitei para garantir o meu exemplar de Caderno Proibido, livro que eu estava de olho e só ouvia as pessoas falando bem dele. O legal de ler o que se tem vontade, independente das metas, é que este pode ser o momento certo daquele livro. Pensei em quantas vezes eu comprei um livro super empolgada para lê-lo e, ao chegar em casa, acabei o colocando na estante por estar com muitas leituras em andamento ou até mesmo por ter muitas metas de Leituras Coletivas e depois, a vontade de ler passou e o livro ficou na estante. Porém, a cada vez que vejo alguém falando sobre o livro em questão, fico pensando que eu ainda não li e que se tivesse lido, poderia ter gostado…. Enfim, vamos nos permitir, né?! E agora, falemos sobre os lidos do mês de julho!

  • Como curar um fanático – Amós Oz (Cia das Letras, 2015): Livro que reúne três ensaios do escritor israelense, onde ele discute os conflitos israelo-palestinos. O primeiro ensaio é sensacional. Os outros dois, achei de argumentação fraca, talvez devido às minhas leituras anteriores de Palestina e de Tornar-se Palestina no mês passado. Ainda assim, o tema é interessante e pretendo continuar lendo mais sobre o assunto, tanto em livros de ficção, quanto os de não-ficção. Em breve resenha sobre ele por aqui.
  • Casa Velha – Machado de Assis (Garnier, 1999): Novela do escritor brasileiro que conta a história de um padre que pretende escrever um livro sobre uma figura pública da sua cidade. Quando ele se aproxima da família do falecido, descobre segredos intrigantes que vão mudar o rumo da vida dos habitantes da Casa Velha. Há uma ambientação histórica da época e discussões que estavam em voga no momento em que Machado escreveu a trama. É muito legal para compreendermos mais sobre a formação do nosso povo, como em todas as obras do grande Machado de Assis. Sim, sou muito fã de Machado. Livro incrível de um escritor maravilhoso, brasileiro e que deve ser lido e estudado por mais pessoas. Recomendo muito a leitura.
  • Vivendo nas entrelinhas – Juliana Cirqueira (Planeta, 2022): Romance contemporâneo da escritora brasileira que conta a história da professora Heloísa, casada com um homem egoísta, que não a enxerga como um indivíduo, que sente vontades e tem suas querências. Ao pegar um livro na biblioteca da escola onde trabalha, ela encontra um fôlder de um Clube do Livro que vai transformar a sua vida. Livro muito bonito, bem escrito, com situações contemporâneas, que dialogam com o leitor. Além disso, há uma declaração de amor aos livros no sentido de mostrar como uma pessoa pode se transformar através da literatura. Já tem um texto aqui sobre o tema da transformação junto a uma análise da protagonista. Ah, tudo isso aprovado pela autora! Olha só que bom! Recomendo muito o livro e o meu texto para vocês.
  • O voo da guará vermelha – Maria Valéria Resende (Alfaguara, 2014): Romance contemporâneo da escritora brasileira, que conta a história de uma prostituta soropositiva e um pedreiro analfabeto que se encontram em uma daquelas ironias da vida e vivem uma bela história de amor. O livro é narrado em terceira pessoa, através de uma linguagem poética, que lembra muito os cordéis, as histórias narradas de forma oral e utilizando-se recursos polifônicos para dar voz aos seus personagens que ao mesmo tempo em que são únicos, representam toda uma população esquecida desse país tão gigante. Apesar de ter um final muito triste, é um livro emocionante, com trechos bonitos para serem destacados e que mexe com o leitor, levando-o à empatia. Recomendo muito esse livro para vocês.
  • David Copperfield – Charles Dickens (Penguim, 2018): Observando que vocês gostam muito de Charles Dickens, aproveitei que eu também adoro o autor e li aquela que é considerada sua obra-prima. Aqui temos a história de David, um garoto que perde os pais muito cedo e por isso enfrenta várias adversidades vida a fora. Mas, com a sua tenacidade e o desejo de ser honesto e de vencer na vida, ele passa por suas provações e conquista um lugar ao sol. É um romance de formação, onde os coadjuvantes da história são tão importantes quanto o próprio protagonista em sua jornada, pois, com cada um deles David aprende algo. É um livro maravilhoso, que deixa no leitor o desejo de tentar ao menos ter uma vida boa, que nos encoraja a enfrentar as intempéries da vida e que nos dá esperanças de um futuro melhor, onde haja justiça, paz e igualdade. Em breve trarei um texto sobre esse livraço para cá. Ainda estou estudando os materiais sobre ele para fazer um trabalho à altura de Dickens. Por enquanto, recomendo demais essa leitura para vocês.
  • Caderno Proibido – Alba de Céspedes (Cia das Letras, 2022): Grande lançamento da Companhia das Letras, Caderno proibido é o diário de uma mulher comum da década de 1950, casada e mãe de dois filhos. Além do trabalho doméstico, ela também enfrenta uma jornada de trabalho no escritório onde ela é secretária. Valéria ao comprar o caderno e começar a escrever suas entradas, vive uma vida de exaustão, onde ninguém a vê, ninguém a chama pelo nome, todos a enxergam apenas como “mamãe”. Através da escrita, Valéria começa a ressignificar sua vida e suas relações, inicia-se um processo de elaboração e problematização de uma vida que até então lhe bastava. Mas não é só sobre isso. Há muito mais nesse livraço que para saber, vocês precisam ler. Ah, só para dar mais um gostinho: há um pano de fundo histórico na obra, mostrando como as guerras e o fascismo italiano modificaram a vida dos cidadãos comuns. Livro favorito, cinco estrelas e super recomendado para todos! Não deixem de ler!
  • A visão das plantas – Djaimilia Pereira de Almeida (Todavia, 2021): Livro contemporâneo de uma escritora angolana, residente em Portugal, conta a história de um capitão que transportava escravos da África para a América e que não sentia culpa ou nenhum tipo de empatia por essas pessoas. Ele via suas funções apenas como um trabalho qualquer e nada mais que isso. Após a sua aposentadoria, ele se isola em uma casa, onde apenas ele, suas lembranças tenebrosas e suas plantas convivem. E para as suas plantas, não importa o passado desse homem ou as suas outras faces: basta que ele lhes regue e adube o solo para que possam florescer. Apesar de não ter gostado desse livro, creio que por causa da escrita e do desenvolvimento do texto, ele gerou uma discussão muito rica no grupo do Leia Mulheres Campinas sobre a questão do julgamento que estamos sempre prontos a fazer uns dos outros e, da mesma forma, esperamos dos autores e principalmente das autoras que coloquem em seus livros esse julgamento de valor. A banalidade do mal e o fato de não conhecermos verdadeiramente as pessoas com as quais convivemos deu muito pano para manga. Não sei se recomendo esse livro, mas o tema é interessante. Então, se vocês gostam de prosa poética e romances experimentais, vão fundo que é sucesso!
  • O retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde (Biblioteca Azul, 2017): Clássico irlandês, conta a história de Dorian, um burguês que não tinha muitas ocupações e menos ainda preocupações e, após ter um retrato seu pintado por um artista renomado e, desse homem se encantar por ele, fazendo-lhe elogios garbosos e exagerados, apaixona-se por sua própria imagem, cometendo loucuras em busca da juventude eterna. Essa obra tem muitas chaves de leitura e é imensamente rica nas discussões que propõe, além de dialogar muito com a contemporaneidade. Após a leitura desse livro, a discussão no Leia Mulheres, a audição do podcast da Folha A mulher da casa abandonada e o documentário do HBO Pacto Brutal, a banalidade do mal se tornou um tema latente por aqui. E O retrato de Dorian Gray é sobre isso também. Recomendo a leitura desse clássico e também as obras que relacionei aqui.
  • Júbilo, memória, noviciado da paixão – Hilda Hilst (Cia das Letras, 2018): Antologia de poemas onde a autora fala sobre amor, erotismo, paixão, solidão, envelhecimento, política, escrita e literatura. É um belo livro, com poemas curtos e potentes, fáceis de ler e difíceis de esquecer. Foi uma grande recomendação da Aline Aimée e assim conheci mais uma escritora e poeta brasileira. Recomendo muito essa leitura, até mesmo para aqueles que não gostam de poesia.
  • Mandíbula – Monica Ojeda (Autêntica, 2022): Livro da escritora equatoriana que conta a história de um grupo de adolescentes totalmente perturbadas, de uma classe social privilegiada e que estão sempre atrás de um perigo, de uma situação limítrofe ou de fortes emoções. Uma delas é sequestrada por sua professora de língua e literatura, que tem a intenção de “educa-la”. O livro é complexo, irritante, pesado, com um uso perfeito da linguagem para passar ao leitor a verdade dos sentimentos das personagens, alternando o narrador onisciente em terceira pessoa e o fluxo de consciência. A narrativa é intermeada entre a situação atual do sequestro e os flashbacks do passado a fim de explicar como tudo aconteceu. No início, eu não estava gostando do livro. Porém, da metade para o final, fiquei perplexa com a forma como a escritora concatenou a literatura de terror com a alma das pessoas, os nossos medos, frustrações e sentimentos mais perversos. Até hoje me vejo refletindo sobre essa leitura e pensando em como podemos ser selvagens dependendo da situação. Foi mais uma experiência proporcionada pelo Clube Leia Latinos. Infelizmente não pude participar do encontro, mas, recebi a curadoria que estava sensacional e discuti com as minhas amigas no grupo do Telegram as minhas impressões sobre o livro. Em breve conversaremos mais sobre ele por aqui.
  • A tempestade Willian Shakespeare (Penguim, 2022): Última peça de teatro escrita pelo grande dramaturgo inglês, onde conhecemos Próspero, um rei que que foi traído por seu irmão e vive em uma ilha que tomou de seu verdadeiro dono, Calibã, após a morte da mãe dele. Para se vingar do irmão, o protagonista utilizando-se da magia, envia uma tempestade para naufragar a embarcação de seus familiares e fazer com que eles tivessem de passar pelo mesmo que ele quando foi traído. Acontece que sua filha Miranda se apaixona pelo primo Ferdinando, complicando os planos de Próspero. É uma peça divertida, que faz referências à Eneida de Virgílio e a outras obras clássicas da Antiguidade. Além disso, é mais uma referência à vida na ilha, algo muitíssimo importante para os ingleses e para a sua literatura. Recomendo muito a leitura dessa peça e de ouras de Shakespeare e, em breve, teremos conteúdo completo sobre A tempestade por aqui.

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