vida de leitor

Leituras de junho de 2022

Junho foi um mês surpreendente de leituras para mim. Os livros fluíram, terminei muito rápido as metas e as leituras coletivas e, a grande maioria das minhas escolhas foram positivas, recebendo notas altas e muitas estrelinhas no Skoob. Teve também muita literatura brasileira, algo que gosto de manter por causa da identidade que temos ao ler livros que se passam no Brasil. Além do mais, é importante conhecer aquilo que é produzido por aqui e ajudar no engajamento dos nossos escritores, vivos e mortos, perpetuando o lugar da literatura nacional no cânone mundial.

Por influência total da minha amiga Jéssica Mattos, li muitos livros latino-americanos esse mês também. O que me deixou bem satisfeita. Tenho gostado de conhecer a prosa da América Latina e as suas vicissitudes. Por isso, possivelmente, vocês verão muitos latines por aqui. Observei ainda que no mês de junho mantive a ideia de ler alguns livros contemporâneos (foram maioria), livros de não-ficção, principalmente ensaios que tanto gosto, contos, que não podem faltar e ao menos uma HQ por mês. Essas metas foram cumpridas com louvor e me senti realizada, além de perceber que a cada mês me sinto mais próxima dos meus gostos literários, fazendo escolhas mais conscientes e evitando as frustrações com livros que não fazem parte do escopo das minhas preferências. Vamos aos lidos!

  • Banzeiro Òkòtó – Eliane Brum (Cia das Letras, 2021): Livro de sociologia, que fala sobre as populações da região amazônica e sobre o descaso total do desgoverno brasileiro em ignorar tudo o que acontece ali, além de destruir o que ainda resta de floresta e mata nativa no local que é considerado o centro do mundo pela autora. Jornalista brasileira, pessoa admirável, corajosa e muito ativa nas questões que envolvem as pessoas, Eliane Brum ganhou o meu coração com esse livro, que se tornou o favorito do ano até o momento. Segunda-feira, resenha dele por aqui.
  • A vida invisível de Eurídice Gusmão – Martha Batalha (Cia das Letras, 2016): A partir de um ponto de vista extremamente irônico, Batalha traça a história das mulheres apagadas pela sociedade que viveram no início do século XX no Brasil. Opressão, padrões rígidos de comportamento, violência, preconceito, prostituição, estupro, dentre outros aspectos aparecem nesse texto, que representa a vida das nossas antepassadas, que tanto sofreram para que hoje possamos ter um pouco mais de espaço no mundo machista e opressor em que ainda vivemos. Apesar da excelente premissa, o livro não me entregou o que eu esperava. Achei apenas ok.
  • Contos completos Tolstói – Volume 1 – Liev Tolstói (Cia das Letras, 2018): Reunião de textos do autor, contendo os primeiros contos, focados nas guerras da Criméia e na Revolução Dezembrista, além de algumas outras narrativas curtas do autor que ficaram bastante conhecidas, tais como Manhã de um senhor de terras e Polikuchka além dos Contos Populares da Década de 1880, escritos durante a segunda fase do escritor, quando começaram seus questionamentos espirituais. Volume excelente de boas histórias, reflexivas e muito potentes, que não deixam de ser atuais por se tratarem da vida humana. Já tem resenha para ele por aqui.
  • Palestina – Joe Sacco (Veneta, 2021): Reportagem no formato de histórias em quadrinhos, onde o autor norte-americano conta o ponto de vista dos palestinos sobre os conflitos com Israel, após a Segunda Intifada. Os relatos são da década de 1990, porém, ao que parece, continuam bem atuais. Demorei um pouco para me conectar com livro e com as histórias e precisei pesquisar bastante sobre o assunto para entender o que ele estava falando na HQ. Como relatos, é uma obra importante, que abre espaço para que pessoas geralmente caladas pela mídia, possam expor os seus pontos de vista. Entretanto, sob o ponto de vista histórico, deixa um tanto a desejar. Em breve, resenha sobre ele por aqui.
  • Tornar-se Palestina – Lina Meruane (Relicário, 2019): Livro de ensaios da escritora chilena, radicada nos Estados Unidos e descendente de palestinos, onde ela questiona as suas origens e vai atrás de sua história, mostrando o ponto de vista de seus antepassados em relação aos conflitos israelo-palestino. Em um segundo momento, ela refuta alguns textos de ensaístas famosos, principalmente dos israelenses como Amós Oz, mostrando as incongruências de seus argumentos em relação à Palestina. Gostei demais desse livro, achei muito sensível e bem escrito. Também nos ajuda a refletir bastante, desde que tenhamos algum embasamento histórico sobre os conflitos para compreender o contexto que ela apresenta.
  • Marrom e amarelo – Paulo Scott (Alfaguara, 2019): Livro de ficção contemporânea brasileira, onde o autor, através de uma prosa diferente, usando o fluxo de consciência como meio de expressão, aponta várias questões sobre o racismo e o colorismo no Brasil. A história se passa no Rio Grande do Sul e mostra uma família birracial, onde um dos irmãos é negro retinto e o outro, negro de pele clara. Conflitos, questões existenciais, culpa, racismo, ativismo, são os temas principais do livro, que concorreu ao prêmio Booker Prizer desse ano. Recomendo muito a leitura!
  • Kentukis – Samanta Schweblin (Fósforo, 2021): Livro de ficção contemporânea, de uma escritora que vem dando o que falar por sua competência na escrita, propõe uma discussão muito relevante nos dias atuais: a nossa relação com a tecnologia. Schweblin cria aqui bichinhos fofos, em forma de robôs, os Kentukis, que podem te fazer companhia, aplacar um pouco da nossa solidão ou… nos fazer muito mal. Afinal, esses bichinhos de pelúcia aparentemente inofensivos possuem uma câmera nos olhos e são controlados através de um tablet por completos estranhos. Gostei bastante do livro, principalmente depois da discussão com o grupo do Leia Mulheres Campinas. Em breve, resenha sobre ele por aqui.
  • Tolstói, a biografia – Rosamund Bartlett (Biblioteca Azul, 2013): Através de uma prosa envolvente e muito fluida, Bartlett conta a história complexa e envolvente de Tolstói, um dos maiores escritores russos do século XIX. Além de sua trajetória de vida, há também uma análise de sua obra e de que forma ela se entrelaça com os acontecimentos da vida do autor e as motivações para escrever cada romance, conto, novela ou ensaio. A vida de Tolstói é fascinante e vira e mexe me lembro de alguma passagem desse livro. Ler a biografia do autor, me fez ver a sua obra de outra forma e também serviu como incentivo para fazer uma imersão nos textos de Tolstói nos próximos meses. Em breve, resenha sobre esse livro por aqui.
  • Banguê – José Lins do Rego (Global, 2021): Continuação do Ciclo da Cana-de-açúcar, Banguê é o terceiro romance da série, que finaliza, ao que compreendi da sinopse, a história de Carlinhos, ou Carlos de Melo. Neste volume, o rapaz, já formado em direito, após dez anos de ausência, retorna ao engenho de seu avô. Ali, vive uma vida de herdeiro, sem se interessar por aprender nada, usufruindo de seus privilégios e se igualando aos senhores de terras que ele tanto critica. É um livro incômodo, que mostra diversas passagens de racismo, mas que, considerando a época em que foi escrito, é difícil imaginar que as coisas não aconteceram conforme estavam escritas no texto. Em breve, resenha sobre ele por aqui.
  • Um retrato do artista quando jovem – James Joyce (Autêntica, 2018): Livro com traços autobiográficos do escritor irlandês, conta a trajetória de Stephen Dedalus, um garoto que vem de uma família religiosa e nacionalista de Dublin, estuda em um colégio católico, mas, desde o princípio, tem uma veia artística querendo sobressair de qualquer forma. A história de Dedalus vai desenhar a construção de um artista desde a infância até o início da fase adulta. Através das epifanias e do fluxo de consciência, Joyce escreveu um texto maravilhoso, no sentido da reflexão e das possibilidades de releituras. É outro texto que precisa de conhecimento histórico sobre a Irlanda para a sua compreensão. Em breve, resenha sobre ele por aqui.
  • O parque das irmãs magníficas – Camila Sosa Villada (Tusquets, 2021): Livro que conta a história da própria Camila, uma travesti que saiu de casa para estudar e, para tanto, precisou se prostituir – muito contra a sua vontade. Procurando um lugar onde pudesse esperar seus clientes em maior segurança, ela conhece outras mulheres que fazem ponto em um parque da cidade de Córdoba e nasce ali uma família, amizades preciosas que vão ajudá-la a superar suas agruras. Essa foi a minha primeira experiência com áudio books e eu gostei demais. Acompanhei o áudio na minha edição impressa, que foi um presentão da minha amiga do Clube Leia Latinos Mônica Geraldine. A escrita de Camila é poderosa, muito lírica e ela consegue, mesmo nos momentos mais densos, cruéis e tristes do romance colocar poesia na dor e nos levar pelas mãos até o fim desse capítulo de sua história. Ainda não escrevi a resenha dele, mas vou escrever e logo estará disponível para vocês. Por enquanto, recomendo fortemente, tanto o livro impresso, quanto o áudio livro.
  • Longa pétala de mar – Isabel Allende (Bertrand, 2019): Romance histórico da escritora chilena Isabel Allende, onde ela conta a história do médico Victor Dalmau, um idealista que fugiu da Espanha a bordo do navio Winnipeg, na época da guerra civil espanhola, com a ajuda do poeta Pablo Neruda. A história desse médico é baseada em fatos reais, sendo uma trajetória inspiradora e muito bonita, apesar de sofrida. O romance abarca um período de mais de 50 anos de história, chegando ao golpe militar de Pinochet em 1973. Allende é uma grande prosadora e seus romances históricos são embasados em muitas pesquisas, tornado a história além de encantadora, uma fonte rica de informações sobre as nossas vicissitudes e sobre os grandes acontecimentos históricos. Também não escrevi a resenha dele, mas vou escrever e publicar em breve. Por hora, recomendo a leitura desse romanção chileno a todos.

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