vida de leitor

Leituras de março de 2022

O mês começou com muitas finalizações de leituras abandonadas e outras que estavam em andamento. As metas do mês também eram muito ambiciosas, mas, de acordo com o ritmo de leitura que eu estava mantendo, acreditei que daria tudo certo em relação às metas. Porém, após finalizar os livros Verão no Aquário da Lygia Fagundes Telles e Crônica da casa assassinada do Lúcio Cardoso, tive uma daquelas ressacas literárias que não passava por nada!

Para quem não sabe do que estou falando, chamamos de ressaca literária um sentimento de não conseguir se desligar do último livro lido, às vezes por ser muito bom ou ter uma história tão impactante que não conseguimos digerir tudo o que ele nos trouxe e assim, começamos uma nova leitura, mas ela não flui, não conseguimos prosseguir. Dessa forma, comecei a ler uns 10 livros e abandonei todos! O salvador da pátria neste caso foi o livro do Clube Leia Latinos do mês, País sem chapéu do Dany Laferrière. Por ser um livro ágil, de capítulos curtos e com uma escrita mais crua e direta, consegui finalizá-lo já próximo ao dia do encontro (o qual não participei).

Mas, depois disso, consegui terminar A casa da alegria da Edith Wharton a tempo de não perder o vídeo do Clubinho da Paloma Lima e este livro se tornou o grande favorito do mês. Tive um certo receio de ter outra ressaca literária, mas deu tudo certo e sigo firme nas leituras. Das metas do mês, fiquei devendo dois livros que estão em andamento e devem aparecer nas leituras de abril. Mas, está tudo bem. Literatura não é uma obrigação e deve ser sempre um prazer e não mais um fardo para carregarmos. Vamos aos muitos lidos de março!

  • Enfermaria nº 6 e outros contos – Anton Tchekhov (Lebooks, 2018): Coletânea de contos do escritor russo que reúne uma seleção de 8 histórias muito potentes, das quais gostei de todas. O conto que dá nome ao livro aborda um tema muito comum na literatura moderna que é a loucura e a forma como ela é tratada pela sociedade, principalmente na época dos hospícios, onde as pessoas inconvenientes eram trancadas e esquecidas por suas famílias e amigos. Conto espetacular e que nos faz refletir muito sobre a vida. https://amzn.to/3jkQNBj
  • Clarice na cabeceira: Crônicas – Clarice Lispector (Rocco, 2010): Coletânea de 20 crônicas da escritora, escolhidas por diversas figuras públicas que conviveram com ela ou que admiram o seu trabalho, com um texto de apresentação da crônica feita por seu curador. É um livro lindo, cheio de histórias para contar. Além de ser uma excelente porta de entrada para a obra da Clarice. https://amzn.to/3KiLpup
  • A época da inocência – Edith Wharton (Penguim, 2013): O livro conta a história de Newland Archer, um jovem de família tradicional que vive em Nova York e está noivo de May, uma moça também de boa família e preparada para cumprir o seu destino de esposa e mãe. Ao reencontrar Ellen, prima de May, Newland começa a rever os seus conceitos e a enxergar a vida sob outro ponto de vista, o que vai lhe custar sua paz de espírito e a solidez do seu casamento. Já tem resenha sobre ele por aqui. https://amzn.to/3DMd3O2
  • A outra volta do parafuso – Henry James (Penguim, 2011): Conhecemos nessa novela do escritor norte-americano uma jovem professora, filha de um pároco, que é convidada a cuidar de duas crianças em uma mansão no condado de Essex. Lá ela vai encontrar diversos mistérios que envolvem não apenas as crianças, mas todos os moradores de Bly. O livro serviu de inspiração para a série da Netflix, A maldição da mansão Bly. https://amzn.to/35Nb13E
  • Édipo Rei – Sófocles (Zahar, 2018): Peça clássica do teatro grego, conta a história de Édipo, um rei que desconhece o seu passado e se vê em uma situação complicada após o oráculo revelar-lhe que ele matou o próprio pai e desposou a própria mãe. É uma peça que mistura uma espécie de romance policial no sentido da busca pelo assassino do rei com a tragédia, quando o protagonista faz as suas escolhas e busca a verdade a qualquer preço. Belo texto do autor, que ainda hoje se mantém bastante atual e nos traz muitas reflexões sobre a nossa identidade. https://amzn.to/3O4UCZQ
  • A hora da estrela – Clarice Lispector (Rocco, 2020): Último romance de Clarice, conta a história de Macabéia, uma mulher simples, que saiu do Nordeste para tentar a vida no Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada pela invisibilidade, pelo não-pertencimento, pela miséria. É um livro triste, mas ao mesmo tempo, muito potente e reflexivo. Vamos percebendo como tratamos as pessoas no dia a dia, como banalizamos a vida alheia e não olhamos realmente para os indivíduos à nossa volta. É um texto para muitas releituras, pois, como todo clássico, nunca se esgota. https://amzn.to/3ugcn0a
  • Diário de um homem supérfluo – Ivan Turguêniev (Editora 34, 2018): Neste livrinho epistolar, conhecemos um homem russo comum, que se contenta com aquilo que a vida lhe oferece, sem perspectivas, sem lutas, apenas a existência. Mas, esse existir cobra um preço e o preço é ver a vida passar sem fazer nada, sem agir em seu próprio destino e sem saber como teria sido a vida se tivesse tomado uma atitude. Para compreender a importância do homem supérfluo na Rússia, é preciso conhecer um pouco de suas tradições e pensamento crítico. Dessa forma, o texto de Turguêniev deu nome a um comportamento comum na juventude de sua época e que causava uma certa preocupação na sociedade. Apesar de inserido em um contexto específico, o homem supérfluo serve muito bem para reflexões sobre as nossas escolhas e sobre a nossa própria existência. https://amzn.to/3r9C7cB
  • Verão no aquário – Lygia Fagundes Telles (Cia das Letras, 2010): Neste romance da escritora, que se tornou o meu favorito dela, conhecemos uma narradora protagonista chamada Raísa que vive uma vida sem sentido. Órfã de pai e com uma relação conturbada com a mãe, a garota vive em um limbo (muito bem representado pela escritora) entre o certo e o errado, a paixão avassaladora e o bom senso, a vida e a morte. Romance complexo, com muitos simbolismos, mostra não apenas a confusão da protagonista como também uma época marcada pela ditadura militar e pela decadência da burguesia paulistana da década de 1960. Livro que indico com todas as forças para vocês. https://amzn.to/3uYYa72
  • Crônica da casa assassinada – Lúcio Cardoso (Cia das Letras, 2020): Neste livro conhecemos a família Meneses, tradicional do interior de Minas Gerais, que vive de aparência e esconde as suas mazelas, segredos e vergonhas literalmente embaixo do tapete. Composta por três irmãos, Valdo, Timóteo e Demétrio – cada um deles carrega consigo sentimentos nefastos, ruins e sórdidos – veem suas vidas mudarem com a chegada de Nina, esposa de Valdo à chácara, onde os seus segredos de família serão desnudados e revelados à toda a cidade. É um livro irregular, porém, faz uma descrição de decrepitude que ainda não li em lugar algum, tanto que me causou uma ressaca literária forte e difícil de passar. Recomendo muito a leitura desse clássico brasileiro para vocês. https://amzn.to/35OEc6z
  • País sem chapéu – Dany Laferrière (Editora 34, 2011): Romance haitiano, com traços autoficcionais, conta a história de um homem exilado no Canadá que volta ao seu país de origem após 20 anos de distanciamento. O autor dá voz à sua mãe, sua avó e seus amigos para descrever o Haiti que ele encontrou depois de todo esse tempo fora, se coloca apenas como um observador. Ele também mostra um pouco da religião haitiana, Vodu, de uma forma simples e fácil de compreender para quem não a conhece. É um livro ágil, com uma escrita crua e direta, mas que nos mostra um outro estilo de vida e a miséria de um povo que sempre teve de lutar por sua liberdade. https://amzn.to/36Zny4E
  • A casa da alegria – Edith Wharton (José Olympio, 2021): Conhecemos nesse livraço a protagonista Lily, uma jovem norte-americana de Nova York que precisa urgentemente se casar, pois, não tem muito dinheiro para seguir os padrões sociais impostos por sua classe que não vê outra alternativa para moças como ela a não ser o casamento. Vamos acompanhando ao longo do romance a trajetória dessa moça durante dois anos, tempo em que ela passa por muitas adversidades em consequência de suas ações, mas ao mesmo tempo motivadas por terceiros que não a querem bem e que se aproveitam de sua situação de vulnerabilidade para levar algum tipo de vantagem ou conseguir favores de Lily. É um livro atemporal, apesar de se passar no final do século XIX. É notório que a nossa sociedade mudou muito pouco de lá para cá e que situações como a de Lily ainda são vistas com mais frequência que imaginamos, claro que em contextos diferentes. Este é um livro sobre o ser humano, sobre as relações humanas, sobre o determinismo, sobre a falsidade, causa e consequência e uma série de outras coisas, principalmente, envolvendo a situação da mulher na sociedade. Favorito do mês e da vida. O final é devastador! Mas vale super a pena ler. https://amzn.to/3Jcggrr

2 thoughts on “Leituras de março de 2022”

  1. Você fez um mix delicioso de russos, gregos, brasileiros, britânicos e ainda temperou com um haitiano! Adorei! Pesquei umas indicações muito boas! 🙂

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