vida de leitor

Leituras de outubro de 2021

Este foi um mês de muitas e boas leituras. Abandonei todas as metas e resolvi ler o que sentia vontade, sem cobranças e prazos que eu mesma estipulava e sem tantos compromissos com leituras coletivas que eu inventava de participar, mesmo sabendo que não queria ler determinado livro naquele momento. Ao tomar essa decisão, me reaproximei dos meus hábitos de leitora e também pude perceber com mais clareza quais são os meus verdadeiros gostos literários, quais os escritores que desejo ter em minha estante e quais não faço tanta questão. Parei de insistir em leituras saturadas, que estavam me causando ansiedade e que não fluíam por não serem para mim ou por não estarem sendo feitas no momento certo.

Nos últimos meses abandonei diversos livros pela metade ou por volta da página 50 por não estar gostando do enredo ou mesmo prestando atenção à história. Enquanto insistia em ler tais textos, ficava de olho na estante, pensando nos livros que me esperavam por lá ou naqueles que eu nem tinha, mas que queria ler imediatamente. Dessa forma, saí de todas as leituras coletivas das quais estava participando, fiz uma limpeza drástica na estante, cancelei minhas assinaturas da TAG Inéditos e do Intrínsecos e fiz uma lista de todos os livros abandonados. Li suas sinopses e doei todos os que eu não tinha intenção de finalizar a leitura. Foi libertador! Assim poderei participar da Festa do Livro da USP com mais responsabilidade e me conhecendo melhor como ser humano e como leitora.

Ainda assim, consegui finalizar 11 livros em outubro, li alguns contos esparsos no Kindle Unlimited de escritores que eu não conhecia, comecei alguns livros que estava realmente com muita vontade de ler e sigo intercalando novelas e contos aos calhamaços que são os meus favoritos. Ah, sim! A cada dia que passa, tenho mais certeza de que sou uma leitora de calhamaços e que amo os clássicos. Tenho preferência por literatura estrangeira (russa, inglesa e de diáspora), mas, para que eu chegue ao fim de um livro ele precisa ter qualidade estética ou uma história muito fascinante. Caso contrário, as possibilidades são muitas para perder-se tempo com livros que não estão chegando a lugar algum e que só nos provocam ansiedade e estresse. Portanto, vamos aos lidos de outubro!

  1. O Rei Lear da Estepe – Ivan Turguêniev (Editora 34, 2021): O autor traz aqui uma releitura do clássico de Shakespeare, O Rei Lear. O enredo dessa história é um pai de família, proprietário de terras, que após um sonho, acredita estar próximo à morte e por isso divide seus bens entre as duas filhas, esperando que elas cuidem dele até o fim. Mas não é bem o que acontece. Livro incrível, muito bem escrito e que provoca muitas reflexões ao leitor.
  2. Gira o livro: Confidências vividas e inventadas – Daniela Cais Chieppe e Letícia Cais Chieppe Carvalho (Adelante, 2021): Livro de pequenos ensaios, escrito por mãe e filha durante a pandemia de Covid-19. Os textos são fluidos e muito pertinentes ao nosso tempo, trazendo reflexões sobre diversos assuntos. Já tem resenha para ele aqui no site.
  3. O livro do xadrez – Stefan Zweig (Fósforo, 2021): Esta é a novela mais conhecida do escritor austríaco e também a sua última obra. O enredo gira em torno de um enxadrista famoso por ser campeão e não perder uma partida de xadrez para ninguém. Até ser desafiado por um desconhecido em uma viagem de navio. Parece simples, mas é bem mais complexo do que o leitor pode imaginar. Em breve, resenha sobre ele por aqui.
  4. A bela e a fera – Clarice Lispector (Rocco, 2020): Livro de contos da escritora brasileira que reúne textos escritos na década de 1940 e 1970. Os dois últimos contos dessa antologia são acachapantes. Os demais também são muito reflexivos e interessantes, mas o destaque vai mesmo para os dois últimos que me fizeram pensar muito sobre a vida e o nosso olhar sobre ela. Em breve resenha desse livraço por aqui também.
  5. Garota, mulher, outras – Bernardine Evaristo (Cia das Letras, 2020): Essa foi a escolha do Leia Mulheres de Campinas para o mês de outubro. É um livro difícil de definir ou de comentar sem spoilers porque ele conta a história de diversas mulheres em blocos de três, e no final todas essas histórias vão se cruzando, formando um romance maravilhoso que aborda principalmente a diáspora, mas também preconceitos, orientação sexual, a vida da mulher negra e as dificuldades enfrentadas por elas em diversas ocasiões. Fala também sobre etnias e ancestralidade e sobre luta, amor e empoderamento. É uma obra impressionante e vou tentar falar mais sobre ela aqui no site.
  6. Meninas – Liudmila Ulítskaia (Editora 34, 2021): Antologia de contos escrita durante o regime soviético, que aborda a infância e a adolescência de garotas que viviam na Moscou da década de 1950. De forma delicada e singela, a autora leva o leitor a perceber nas entrelinhas o que foi a vida nesse período tão complexo da União Soviética e a reverberação dos acontecimentos mundiais na vida das pessoas comuns, principalmente das mulheres pobres e de suas famílias. Livro belíssimo e tocante, que demorou muito a ser traduzido e publicado no Brasil. Esperamos ansiosamente por mais títulos da escritora por aqui. Em breve resenha sobre ele também.
  7. Menino de Engenho – José Lins do Rego (Global, 2020): Primeiro livro do famoso “Ciclo da Cana de Açúcar”, conta a infância de Carlinhos, um garoto que perde a mãe para o feminicídio e, com o pai preso, vai morar no engenho de seu avô, onde é criado pelas tias. Neste volume, narrado em primeira pessoa, o protagonista faz reflexões sobre a vida no engenho e as diferenças sociais. Leitura realizada para o Projeto Grandes Personagens da Literatura Mundial, que desenvolvo junto à minha amiga Carol Felicori.
  8. Aprender a falar com as plantas – Marta Orriols (TAG, 2021): Livro enviado pela TAG Curadoria no mês de outubro, ainda inédito no Brasil, conta a história de Paula, uma mulher por volta dos quarenta anos, médica de UTI neonatal, workhaolic, bem-sucedida, mas que acabou de perder o marido, horas depois deste terminar o casamento para viver com outra mulher. O texto da autora é fluido e faz muitas reflexões sobre o nosso tempo, estilo de vida e escolhas que fazemos em um mundo onde a produtividade é essencial.
  9. O apanhador de sonhos – Stephan King (Suma, 2013): Finalmente consegui finalizar esse livraço do King. A leitura dele estava parada por motivos pessoais e neste mês consegui me sentir capaz de voltar a ele e finalizá-lo. Temos aqui uma história de terror, onde aliens invadem a Terra e se apoderam do corpo de algumas pessoas, fazendo com que estas “morram” de alguma forma e se comportem como monstros. A narrativa do autor é muito fluida, o desenvolvimento dos personagens é maravilhoso e ele aborda temas muito importantes, apesar de incômodos através do terror psicológico e do enredo ágil e visual. Para leitores sensíveis, esse livro contém cenas beeem escatológicas. Então, pensem duas vezes antes de encará-lo! Rsrs.
  10. Coração das trevas – Joseph Conrad (Antofágica, 2019): Clássico da literatura inglesa, conta a travessia de um grupo de pessoas em meio à África durante o período de escravidão e exploração de marfim no continente. Apesar de ter um relato forte e contundente, eu tinha expectativas muito grandes em relação a esse livro. No entanto, ele deixa muito a desejar na parte estética da obra. Os capítulos são grandes, enfadonhos, confusos e prolixos. Além do mais, a narrativa é feita em forma de margem (uma história dentro da outra), algo que para funcionar bem, precisa ser muito bem executada (vide Ivan Turguêniev e Stefan Zweig), o que não é o caso aqui. Foi a maior decepção desse mês e esta foi uma leitura realizada para as aulas da Pós-Graduação.
  11. A honra perdida de Katharina Blum – Heinrich Böll (Carambia, 2019): Novela alemã clássica, conta a história de uma moça independente, bem-sucedida e divorciada, que vivia em uma cidade da Alemanha Ocidental na década de 1970. Um dia, após o trabalho, ela sai com as amigas para dançar e se envolve com um homem foragido da justiça. A partir de então, sua vida e a das pessoas à sua volta que resolvem acreditar nela e ficar ao seu lado se transformam em um verdadeiro inferno. Esteticamente falando, não é uma obra-prima. Mas traz reflexões profundas que dialogam muito com os dias atuais. Recomendo fortemente e logo teremos resenha para esse livro aqui no site.

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