vida de leitor

Leituras de setembro de 2022

Setembro foi um mês de pouco rendimento em leituras. Já na primeira semana, devido a uma crise alérgica, minha concentração ficou bastante comprometida e, acho que desde que ingressei na Faculdade de Letras, há muito tempo eu não assistia tanto à TV como fiz esse mês. Considerando alguns pontos, creio que ao longo de 2022 fiz muitas leituras densas e poucas de entretenimento. É interessante mesclarmos os estilos de leitura por causa disso: em algum momento, a cabeça dá um bug e não conseguimos avançar nas metas e nas leituras propostas.

Diferentemente do mês passado, para setembro não fiz metas. Claro que tinham os livros das leituras coletivas que eu queria ler, como Os filhos da meia-noite, que me acompanhou na primeira quinzena do mês; Os abismos da Pilar Quintana para o Clube Leia Latinos, que foi uma bênção em vários sentidos para mim e os ensaios da Joan Didion, Rastejando até Belém para o Leia Mulheres Campinas, que, como vocês já sabem, em tempos de ressaca literária, a não-ficção para mim funciona extremamente bem e me deixa mais animada em relação aos próximos livros.

Mas, no geral li bastante. Muitos livros foram começados e abandonados momentaneamente. Outros foram concluídos. Me empolguei e ingressei em várias leituras coletivas e cursos de extensão que exigiram outras leituras à parte e, mais para o final do mês, quando as coisas estavam mais calmas, me apaixonei novamente por Middlemarch, que estava parado há algum tempo e finalizei esse romance grandioso, que se tornou um grande favorito de 2022. Inclusive, já adianto que esse ano será difícil definir o Top 10 de melhores leituras do ano. Foram só coisas boas e especiais e creio que isso se deve ao fato de atualmente, eu me conhecer cada vez mais como leitora e saber o que funciona e o que não funciona para mim. Mas, chega de enrolação e vamos aos lidos de setembro!

  • Rastejando até Belém – Joan Didion (Todavia, 2021): Livro de ensaios da escritora, jornalista e ensaísta estadunidense, com textos publicados na década de 1960 em diversos veículos de comunicação dos Estados Unidos. Os temas dos textos são diversos, mas, todos têm em comum a vibe do movimento hippie, a onda de violência crescente na Califórnia, as drogas e a situação política do país naquela época: luta pelos direitos civis, assassinato de JFK, de Martin Luther King e Malcon X, Nixon no poder e tantas outras questões que promovem insights interessantíssimos para discussão e artigos críticos. Recomendo demais essa leitura para vocês.
  • Contos completos, volume 2 – Liev Tolstói (Cia das Letras, 2018): Segundo volume dos contos completos desse escritor que já se tornou um grande favorito para mim. Nesta coletânea, temos os textos infantis que o autor utilizava em suas aulas e os últimos escritos dele, alguns bastante famosos como Kolsthomier, Depois do baile, O diabo, O cupom falsificado, dentre outros. Definitivamente, esse livro entrou para os favoritos da vida e melhores leituras de 2022, pois, independente de concordarmos ou não com o raciocínio do autor, são textos que nos levam à reflexão e que nos fazem pensar e questionar o nosso posicionamento diante da vida. Recomendo fortemente essa leitura e já tem resenha para ele por aqui.
  • O leitor como metáfora – Alberto Manguel (Sesc Editora, 2017): Conjunto de três ensaios do crítico literário, onde ele, a partir de uma obra clássica, define os três tipos de leitores: o viajante, a torre e a traça. Ao mesmo tempo em que o texto de Manguel é fluido e fácil de ler, ele mostra o seu conhecimento sobre literatura e o perfil dos leitores, onde podemos nos identificar bem com cada um deles, ao menos em determinadas assincrasias ou fases da nossa vida de leitores. É um livro curto, fácil de ler e que enche a nossa lista de desejos de livros indicados pelo autor. Certamente lerei mais textos de Manguel e recomendo muito essa leitura para vocês também.
  • Os filhos da meia-noite – Salman Rushdie (Cia das Letras, 2006): Romance de formação do escritor inglês, de ascendência hindu, onde ele conta a trajetória de Saleem Sinai, um menino que nasceu junto à independência da Índia. Os principais conflitos do país e a sua história moderna se entrelaçam na trama do protagonista, dando ao leitor um panorama histórico e cultural de um país fascinante e muito estigmatizado pelo povo ocidental. É um livro denso, de leitura um pouco truncada, mas de uma inteligência fora do normal, muito bem construído e que vale o esforço de chegar ao fim para saber sobre todas as fases da vida de Saleem, protagonista complexo de quem aprendemos a gostar ao longo da leitura. Já tem resenha para ele por aqui também.
  • Os abismos – Pilar Quintana (Intrínseca, 2022): Romance da escritora colombiana que vem se destacando no cenário literário atual por sua precisão de escrita e por abordar de forma contundente temas contemporâneos e urgentes a todos. Neste livro acompanhamos a protagonista Cláudia, uma criança de nove anos que precisa lidar com os abismos interiores de seus pais. Existe uma diferença de idade entre a sua mãe e o seu pai e também uma solidão enorme nesse casamento disfuncional. Cláudia, sua mãe (sim, as duas chamam-se Cláudia) sofre com depressão e a filha procura entender o que provoca esses momentos de afastamento de uma mulher que aparentemente tem tudo para ser feliz. É um livro curto, rápido de ler, muito bem escrito e de uma potência enorme. Em breve teremos resenha sobre ele por aqui, onde entrarei em mais detalhes sobre o enredo, a narradora e a ambientação da Colômbia dos anos 1980. Desde já, recomendo fortemente a leitura a todos.
  • A rosa mais vermelha desabrocha – Liv Strömquist (Cia das Letras, 2021): Quadrinho ensaio sobre os relacionamentos na era do pós-capitalismo, onde a autora, a partir de pesquisas sobre o tema, discute os possíveis motivos para os relacionamentos durarem tão pouco ultimamente. É um livro muito interessante, ao mesmo tempo em que é irreverente, trazendo uma leveza a um tema tão pesado e muitas vezes, difícil de abordar. A autora mostra ainda como o consumismo e o capitalismo tardio afetam as nossas relações e os nossos sentimentos pois, sem perceber, colocamos o outro como uma espécie de mercadoria em vários sentidos. É um livro muito legal, que recomendo a todos como uma forma de rever, repensar e reavaliar os nossos conceitos sobre relacionamentos.
  • As bacantes – Eurípedes (Zahar, 1993): Peça de teatro grego, onde conhecemos o deus Dionísio e suas bacantes que chegam a Tebas com a intenção de realizar seus cultos ali. Rechaçado por Penteu, Dionísio não deixa essa questão barata provocando a loucura neste rei e o levando a cometer uma das maiores tragédias do teatro grego e da mitologia. É uma peça forte e gráfica, mas que nos provoca reflexões em relação a uma porção de coisas, inclusive o nosso desejo perverso de diversão constante e de chegar até o limite dos sentidos e das experiências. Em breve resenha sobre ele por aqui também.
  • Middlemarch – George Eliot (Pedra Azul, 2022): Romance de fôlego da Era Vitoriana, considerado junto a David Copperfield um dos maiores do gênero, conhecemos esse vilarejo inglês, que dá título ao livro. Lá vivem pessoas conservadoras, idiossincráticas, dentre elas, a jovem quixotesca Dorothea Brook, que se casa com o pároco Mr. Causabon. Logo chegam na cidade Mr. Ladslaw, primo de Causabon e o médico idealista Lydgate, que se casa com uma jovem tradicional Rosamound Vincy, uma moça cheia de vontades e que não está acostumada a ser contrariada. A partir desses casais totalmente disfuncionais, a autora aborda o casamento e a vida familiar sob a perspectiva do não-conhecimento do outro, do individualismo e da falta de observação e compreensão do que é um casamento. Expectativas versus realidade são o tema principal desse romance, além de uma abordagem política, econômica e social da época da Reforma Católica e da chegada das ferrovias na Inglaterra. Livro sensacional, mais um favorito da vida e do ano e que já tem resenha para ele por aqui. Fortemente recomendado!

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