vida de leitor

Livros de contos 5 estrelas para gostar de ler histórias curtas

É bastante comum ouvirmos os leitores dizendo que não gostam muito de contos. Geralmente não gostam porque são histórias curtas, rápidas e muitas vezes não permitem aquele “apego” aos personagens e ao enredo, impedindo assim que o leitor se envolva com a trama do conto. Porém, este é um dos gêneros literários mais antigos que temos conhecimento: ele vem desde os tempos mais remotos e está presente em grandes obras tais como a Bíblia, o livro das Mil e uma noites e nas novelas medievais. Ou seja, os contos no formato que conhecemos hoje são uma evolução dessas histórias curtas, muitas vezes contadas oralmente nas aldeias pelos povos antigos e que passaram a ser escritas, algumas mais elaboradas e outras mais simples.

A estrutura básica do conto é o início da narrativa, com uma pequena contextualização e ambientação, desenvolvimento da história e final. Segundo alguns críticos, é necessário que o conto provoque algum tipo de impacto no leitor para se tornar memorável e ser prazeroso de ler. Entretanto há controversas. Conhecemos os contos estruturados, tais como os de Machado de Assis, Edgar Allan Poe, Tolstói, Gogol, alguns contos de ficção científica como os de Ray Bradbury e os famosos contos de fadas. Por outro lado, temos os contistas mais filosóficos e abstratos como Júlio Cortázar, Borges, Clarice Lispector, Virgínia Woolf, dentre outros. E temos também os contistas do cotidiano que escrevem histórias curtas sobre as pessoas comuns, sem grandes acontecimentos, com o foco n dia-a-dia de qualquer indivíduo. Os destaques neste caso ficam para Tchekhov, Catherine Mansfield e Alice Munro, que têm a capacidade de contar histórias sobre pessoas ordinárias de forma marcante e incômoda. Ou seja: temos contistas para todos os gostos e de todas as vertentes da literatura. Algum deles deve agradar a você, leitor. Basta dar uma chance e procurar o estilo que mais lhe convém.

Por ora, seguem algumas dicas de livros de contos cinco estrelas, curtos e que podem agradar aos leitores em geral. Vamos a eles!

  • Vida querida – Alice Munro (Cia das Letras, 2013): Esse é um dos meus livros favoritos da vida, onde encontramos dez histórias de ficção da autora canadense, falando sobre o cotidiano de mulheres diversas. O clímax fica por conta de decisões que são tomadas por elas em algum momento da vida e que transforma sua existência de alguma maneira, mas, no momento da ação, elas não sabem disso ainda e depois precisam conviver com suas escolhas. Este livro tem ainda quatro contos autobiográficos da escritora que são incríveis e foi a sua última obra publicada. Depois desse livraço, Munro parou de escrever. Recomendo esse livro de olhos fechados para qualquer leitor. Não conheço ninguém que o tenha lido e não tenha gostado dele.
  •  No seu pescoço – Chimamanda Ngozi Adichie (Cia das Letras, 2017): Os contos dessa antologia da escritora nigeriana são um prelúdio de seu grande clássico Americanah. Nesta coletânea Chimamanda conta as histórias de vários imigrantes nos Estados Unidos e como é a sua vida por lá. Há um misto de situações revoltantes com outras que beiram o ridículo da vida de quem escolhe imigrar e não tem ideia do que lhe espera em um país de cultura totalmente diferente da sua, onde a população é dividida em guetos e que existe uma forte discriminação de gênero, raça e classe. Chimamanda dispensa apresentações, sendo uma escritora potente, de texto fluido e muito contundente em suas críticas sociais. Recomendo demais esse livro a todos.
  • 15 contos escolhidos de Katherine Mansfield (Record, 2016): Este é daqueles livros que começamos a ler despretensiosamente e de repente, ele nos envolve de forma certeira e não conseguimos mais parar de ler. Recomendada por Clarice Lispector e Érico Veríssimo, a autora consegue contar histórias simples, do cotidiano de pessoas comuns, com uma profundidade ímpar e com críticas sociais contundentes. Aqui é possível conhecer um pouco da cultura australiana e da vida nas cidades do país no século XIX. Os sentimentos humanos estão descritos nessa obra-prima de forma profunda e tocante, levando o leitor à reflexão e a empatia. Recomendo muito essa leitura e para os fãs da Clarice, o primeiro conto da antologia é o favorito da autora.
  • Contos – Guy de Maupassant (Editora Unesp, 2020): Esta coletânea contempla os principais contos do autor francês, incluindo Horla e Bola de sebo, que são duas de suas histórias mais conhecidas junto a outros seis contos, mesclando as histórias de mistério com as mais dramáticas. Esse contraponto e a curadoria da antologia fizeram desse livro uma excelente porta de entrada para conhecer o escritor. São textos rápidos de ler, envolventes, cheios de críticas sociais e que abordam temas diversos, como a loucura por exemplo. Recomendo fortemente esse livro para os leitores que já conhecem o autor e também para os que nunca o leram.
  • Entre amigos – Amós Oz (Cia das Letras, 2014): Coletânea de oito contos do escritor israelense, onde conhecemos um pouco da vida no Kibutz. As histórias se completam, sendo ao mesmo tempo independentes, mas interligadas através dos personagens que aparecem nelas. Os contos dessa antologia são pesados, porém escritos por um exímio escritor que consegue transpor para o papel os sentimentos envolvidos em cada vivência, em cada pormenor do cotidiano muitas vezes monótono e sem emoções dos personagens. Suas histórias são marcantes, contundentes e nos levam a muitas reflexões sobre vários temas e principalmente sobre o ser humano. Recomendo fortemente esse livro a todos. Ele é uma lição de vida e de humanidade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *