vida de leitor

Livros de ensaios 5 estrelas para conhecer mais sobre o mundo

Repetir aqui o quanto gosto de ensaios é redundância. E por isso resolvi fazer uma lista com cinco títulos de autores diversos, com temas variados para incentivar a leitura desse gênero que tanto nos ajuda a compreender o mundo de uma outra forma; nos ensina muito sobre o ser humano e nos leva a reflexões importantes para o nosso crescimento pessoal, intelectual e como pessoas. Entretanto alguns de vocês deve estar se perguntando: mas o que é um ensaio?

Ensaio é um gênero textual de não-ficção, onde o autor, de forma argumentativa, defende um ponto de vista. Geralmente ele parte de alguma experiência vivenciada, alguma leitura que o impactou, algum filme, série, podcast ou mesmo acontecimentos do dia-a-dia que lhe chamam a atenção. Os ensaios são diferentes das crônicas, pois não se trata de uma observação do cotidiano, mas de argumentações sobre um tema específico. Também não são artigos jornalísticos porque apesar das argumentações e da pesquisa para falar sobre o tema, os artigos geralmente são textos mais impessoais, utilizando-se uma linguagem mais fria; já os ensaios são textos mais subjetivos, muitas vezes literários, onde o escritor disserta sobre determinado assunto, colocando além de suas pesquisas, um pouco da sua opinião pessoal e de suas vivências.

Nos últimos anos, tenho lido cada vez mais o gênero e a cada livro que finalizo, sinto vontade de compartilhar o que li, de discutir sobre os temas abordados e assim, quando tenho acesso a algum livro de ficção que dialogue com os ensaios que li, eles ganham um significado e um sentido muito maiores que poderiam ter sem o conhecimento prévio advindo dos textos de não-ficção. Os ensaios têm como função principal estimular no leitor o senso crítico, o pensamento analítico e a capacidade de observação que todos possuem, porém, muitas vezes, os deixam adormecer; esse tipo de texto, quando acessado, desperta no leitor até mesmo a curiosidade para a pesquisa, a busca de informações e a vontade de ler ou assistir as obras citadas pelo ensaísta. É um verdadeiro caminho sem volta! Vamos às indicações!

  • Um teto todo seu – Virgínia Woolf (Tordesilhas, 2014): Neste texto clássico, a autora aborda a questão da mulher na sociedade do final do século XIX, início do século XX, mostrando através de suas observações e reflexões que sem um espaço específico, sem dinheiro e sem tempo livre, uma mulher não teria condições de produzir textos de ficção ou de realizar qualquer atividade intelectual mais aprofundada. Sua argumentação vem do contexto em que as mulheres eram apenas esposas e mães, deviam cuidar da casa e da família, não tinham um espaço de trabalho e dessa forma era-lhes impossível produzir qualquer coisa além das tarefas domésticas. Neste texto a autora cria uma irmã fictícia para Shakespeare e prova que, mesmo tendo os mesmos talentos textuais do irmão, ela não seria famosa e nem escreveria tantas peças inesquecíveis quanto ele. É um texto fluido, rápido de ler e muito reflexivo.
  • Ao mesmo tempo – Susan Sontag (Cia das Letras, 2008): Antologia de 15 ensaios da autora, organizados por seu filho após o falecimento de Sontag, esses são os seus últimos escritos. Nesta coletânea, temos desde textos onde ela admira a literatura russa, expondo suas opiniões sobre os clássicos Tolstói, Dostoievski, Pasternak, dentre outros, junto a manifestos críticos sobre os atentados de 11 de setembro e a questão da Palestina. Encontramos também textos onde a escritora fala sobre a Literatura e seu amor por ela, prêmios literários e sua importância e o trabalho de tradução. São textos de uma riqueza enorme, de muita qualidade estética, com um encadeamento de ideias que é impressionante e que mostra também quem foi essa mulher ativista, uma norte-americana muito crítica e que nunca se posicionou a favor dos erros cometidos por seu país. Recomendo a vocês qualquer livro da Sontag. Ela é simplesmente maravilhosa!
  • O mito de Sísifo – Albert Camus (Record, 2018): Antologia de 12 ensaios de um dos maiores intelectuais do século XX, onde ele vai discutir a teoria do absurdo. O contexto é a Segunda Guerra Mundial, no período de ocupação alemã na França. O autor leva o leitor a pensar se ele acredita em Deus e que tudo o que está acontecendo no mundo se deve ao destino ou se somos livres e consequentemente responsáveis pelas nossas ações. Utilizando-se do mito de Sísifo – homem condenado pelos deuses a empurrar uma pedra por uma ladeira até lá em cima, que fatalmente cairia e assim ele teria de empurrá-la novamente até o topo em um looping infinito e infrutífero – o autor mostra que a sociedade contemporânea vive da mesma forma: insistindo em algo ineficiente e ineficaz. Os textos de Camus são concisos, mas muito poderosos. É impossível ficar indiferente ao que ele aponta, amparado pela teoria do absurdo e pela filosofia existencialista. Além disso, os textos se mantém extremamente atuais e pertinentes aos dias de hoje e aplicáveis a outros contextos.
  • Tornar-se Palestina – Lina Meruane (Relicário, 2019): Conjunto de 9 ensaios da autora, onde ela reflete sobre a Palestina e principalmente, sobre o que é ser palestino. Esse livro surgiu da necessidade de Lina em buscar suas origens a partir da história de seu avô, refugiado palestino, que encontrou abrigo no Chile. A escritora nunca havia estado no Oriente Médio, mas foi atrás de conhecer o lugar e assim, observou a situação de seu povo, de forma crítica, mas ao mesmo tempo literária e voltada para a comunicação não-violenta. A autora neste livro intenso, belo e muito reflexivo faz contraponto a outros textos de autores como Amós Oz, Edward Said, David Grossman e Susan Sontag. É um belo livro de ensaios, que nos faz repensar a forma como enxergamos a diáspora e sua principal consequência na vida de suas vítimas: a dificuldade em saber quem são, de onde vêm e qual é a sua cultura.
  • As pequenas virtudes – Natalia Ginzburg (Cia das Letras, 2020): Antologia que contém dez ensaios da intelectual italiana, foi a inspiração para este post. A resenha sobre ele foi publicada aqui na segunda-feira passada e por isso não vou me estender muito dessa vez. Nesta coletânea, a autora aborda temas importantes como educação, família, maternidade, viagens, relações humanas, trabalho e amizade sob o fio condutor da Segunda Guerra Mundial e do fascismo italiano. É um livro maravilhoso, que nos faz repensar a nossa vida e a forma como a enxergamos e a conduzimos. Leiam a resenha sobre ele e também leiam qualquer coisa que a Natalia Ginzburg tiver escrito. Certamente sairão transformados dessa leitura.

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