vida de leitor

Livros que amei ler, mas não favoritei – Parte 2

Há um tempo atrás, fiz um post aqui e no Instagram, o qual vocês gostaram muito, comentaram e interagiram bastante, onde eu falei um pouco sobre a nossa relação pessoal com alguns livros que são considerados unanimidade em amor por parte dos leitores – ou seja: praticamente todo mundo que lê esses títulos o consideram um favorito, cinco estrelas. São realmente obras muito importantes, com um valor estético enorme e que conquistam vários leitores mundo a fora. Mas, por algum motivo muito particular, essas obras não conseguiram me conquistar. Assim, baseado nos estudos de Terry Egleton, digo que os respeito, mas não os amo.

Sobre o assunto, Thomas Mann em sua novela A morte em Veneza, faz um comentário na voz de um de seus personagens que ilustra muito bem esse sentimento em relação a obras-primas que não nos emocionam:

Para que uma obra intelectual de algum valor consiga produzir de imediato efeitos amplos e profundos, carece existir uma afinidade secreta, e mesmo uma harmonia íntima, entre o destino individual de seu criador e o destino coletivo de seus contemporâneos. Os homens ignoram a razão porque cingem a obra de arte de glória determinada. Longe de serem peritos, creem descobrir nela um sem-número de qualidades que justifiquem tamanhos elogios. Mas o verdadeiro motivo de seus aplausos é algo incomensurável, é a simpatia” (MANN, 2020, pág. 19)

Portanto, posso dizer que os livros que vou mencionar neste post são muito bem escritos, possuem uma estética perfeita, trazem muitas reflexões e trechos bonitos para serem marcados, porém, ao final dessas leituras, seus temas principais e o seu desenvolvimento não ficaram ecoando em mim, não os tornando inesquecíveis e, portanto, nem favoritos da vida ou sequer do ano.

  • A história secreta – Donna Tartt (Companhia das Letras, 2021): Um grupo de estudantes da graduação resolvem recriar um bacanal, baseado na obra As Bacantes de Eurípedes, em busca do pitoresco e do sublime, provocando consequências funestas para todos eles. Minha experiência de leitura com esse livro: achei o texto excelente, perfeito, sem defeitos, porém, eu não consegui me conectar com nenhum personagem e não sentia vontade de ler o livro, apenas saber o desfecho da história. Fiz a leitura junto a um curso sobre a obra, onde aprendi muito sobre o contexto do livro e as inúmeras referências que a autora coloca em seu texto.
  • As ondas – Virgínia Woolf (Autêntica, 2021): Seis amigos contam a sua trajetória de vida, desde a infância até a velhice, através de solilóquios que se sobrepõem. O enredo se desenvolve a partir da morte de Percival, um amigo em comum de todos e que serve como fio condutor da obra e dos temas desenvolvidos pela autora. Minha experiência de leitura com esse livro: apesar de ser maravilhoso e de uma inteligência fora do normal, com trechos lindíssimos para sublinhar, não consegui me conectar com o livro e também não tinha vontade de lê-lo. Essa foi uma leitura coletiva com o Clube de Literatura Inglesa e eu não consegui terminar a obra na data prevista. Um tempo depois, voltei a ele e finalizei o livro, que foi praticamente esquecido após fechá-lo.
  • Como ser as duas coisas – Ali Smith (Companhia das Letras, 2016): Dividido em duas partes, sendo a primeira narrada pelo olho do pintor e ambientada no século XV e a segunda, narrada pela câmera que seria a visão de uma garota que perdeu a mãe e observa as pinturas feitas há 5 séculos atrás, a autora aborda questões de gênero e o tema principal que é o duplo através da arte. Minha experiência de leitura com esse livro: Diferente dos anteriores, essa foi uma leitura muito ágil para mim. O texto é excelente, apresenta uma polifonia perfeita, dentro de uma linguagem única e muito bem trabalhada. Porém, não consegui me envolver com a história a ponto de extrair dela algo que me tocasse e me fizesse pensar sobre o livro em questão.
  • Meu nome é vermelho – Orhan Pamuk (Companhia das Letras, 2013): Um assassinato é cometido dentre um grupo de artistas que trabalhavam em uma obra encomendada pelo sultão. Utilizando a voz de dezenove personagens diferentes, seguimos as pistas deixadas por cada um deles em busca do assassino e das motivações para o crime, que envolve a cultura e as tradições mulçumanas. Minha experiência de leitura com esse livro: Apesar do texto elegante do autor e das diversas reflexões sobre arte, religião, fanatismo e tantos outros temas que me são caros, achei a leitura maçante e não consegui me envolver com os personagens e com o enredo. Alguns capítulos são extremamente curtos, enquanto outros são demasiadamente extensos e creio que esse fator atrapalhou um tanto da minha experiência de leitura.
  • As intermitências da morte – José Saramago (Companhia das Letras, 2020): Um dia, em um país não especificado, as pessoas pararam de morrer. Esse fato provocou diversas consequências desagradáveis e problemas que precisam de solução urgente, gerando discussões importantes sobre envelhecimento, suicídio assistido, máquina estatal, corrupção, dentre outros temas universais. Minha experiência de leitura com esse livro: Desde o começo da leitura não me envolvi com o texto, nem com o enredo e nem com a narrativa. Interrompi a leitura diversas vezes, quando pegava o livro de novo, algumas vezes fluía bastante, mas, depois de um tempo, me provocava sono, cansaço e desânimo. Ainda não sei se gosto do autor. Li três livros dele, admiro o seu trabalho, mas gostar mesmo, só de um até agora.

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