O que faz de um livro favorito? Porque algumas histórias nos marcam tanto, mesmo quando seu enredo não tem muito em comum com nosso cotidiano? São reflexões para fazer uma escolha tão difícil como selecionar apenas 10 livros marcantes em mais de 30 anos de leituras…

Nesta lista considerei aqueles que foram um marco para mim de alguma forma e, vou explicar cada um deles brevemente para ficar mais claro. Coloquei todos em ordem cronológica de leitura, marcando a fase em que se tornaram tão importantes. Essas escolhas falam muito sobre o meu gosto literário e minha forma de encarar a vida, sendo uma maneira de apresentar um pouco do conteúdo que aparecerá por aqui. Vamos a eles!

1. Os Maias – Eça de Queiroz (Zahar, 2017): Primeiro clássico que realmente gostei de ler pelo choque que ele causa ao final. Li esse livro durante o Ensino Médio e a análise do professor ajudou muito a compreender a grandiosidade da obra e os recursos literários que o escritor utilizou para compor o texto, fazendo uma enorme crítica social ao estilo de vida dos portugueses no final do século XIX. Lendo esse livro, o meu amor pela Literatura começou e a partir daí meu interesse por Teoria e Crítica Literária.
2. Sobre meninos e lobos – Dennis Lehane (Cia das Letras, 2002): Sempre gostei de ler romances policiais e livros de mistério. Quando bem escritos, são uma grande fonte de entretenimento e mesmo de reflexões. Esse romance foi um dos que mais me fez pensar. O autor aborda temas muito complexos e difíceis através de personagens verossímeis e próximos da nossa realidade. Essa é uma história que pode acontecer com qualquer um de nós em qualquer momento de nossas vidas. É quando estamos no lugar errado e na hora errada ou quando algo acontece que muda tudo para sempre.
3. A sombra do vento – Carlos Ruíz Zafón (Suma, 2001): Esse é sem dúvida um dos livros mais bonitos que já li na minha vida. Além de um estilo de escrita único, Zafón reúne nessa obra tudo o que mais gosto na Literatura: suspense, mistério, romance e tragédia. O livro é lindo, mas ao mesmo tempo triste. Profundo e reflexivo, mas com alguns clichês. O sentimento de terminar a leitura de A sombra do vento é de vazio existencial.
4. Flores para Algernon – Daniel Keys (Aleph, 2018): Ler esse livro para mim é sinônimo de empatia. Keys tem o dom de transportar o leitor para dentro da mente de uma pessoa com deficiência intelectual e isso é muito crível. Por ser uma narrativa epistolar, acompanhamos o Charlie descobrindo a maldade humana em atitudes que para ele pareciam simples brincadeiras. Descobrir como a humanidade é ridícula e preconceituosa e como as pessoas não sentem o menor respeito por aqueles que são diferentes de alguma forma. Por ter passado por essa experiência na minha vida pessoal, o livro me tocou profundamente.
5. O amor de uma boa mulher – Alice Munro (Cia das Letras, 2013): Depois de assistir a um vídeo da Duda Menezes onde ela indica fortemente esse livro, consegui compra-lo em um sebo. Peguei-o despretensiosamente para ler um conto (não sou uma grande fã de contos) e só parei de ler quando terminei o livro! Munro através de recortes do cotidiano, reflete sobre temas como abuso, violência doméstica, machismo, patriarcado, miséria, pós-guerra, angústia, ansiedade e vários outros assuntos muito comuns na vida de todos nós. Se você não se reconhecer em nenhum personagem, certamente reconhecerá algum parente ou vizinho. Depois desse livro eu sabia que uma chave havia sido virada em minha cabeça e que eu não leria mais os mesmos livros. Hoje, Alice Munro é minha escritora favorita de vida.
6. Anna Kariênina – Liev Tolstói (Cia das Letras, 2017): Me apaixonei por Tolstói nas primeiras linhas desse romance folhetinesco. A história é clichê, mas é um tema que me interessa bastante. Comecei a ler Literatura Russa pelos contos do Tchekhov (comparam bastante a Alice Munro a ele) e, logo depois, encarei Anna Kariênina  e me rendi aos russos. O mais legal aqui é a construção dos personagens e os diálogos que me deixaram encantada.
7. Americanah  – Chimamanda Ngozi Adichie (Cia das Letras, 2014): A importância desse romance em minha vida de leitora é simplesmente o fato de ele ter sido o meu objeto de estudo no TCC. Foi graças a essa obra crítica, sarcástica e ao mesmo tempo muito reflexiva e contemporânea que eu me tornei licenciada em Letras pela Unip. Sei trechos desse livro de cor ainda hoje e, várias vezes, me pego citando frases dele em conversas cotidianas.
8. História do Novo Sobrenome – Elena Ferrante (Biblioteca Azul, 2016): O segundo volume da Tetralogia Napolitana entrou para os meus livros favoritos da vida pelo fato de após muito tempo, eu me identificar tanto com uma personagem como me identifiquei com a Lenu. São situações diferentes, mas, os sentimentos de não-lugar, de não-pertencimento, dificuldade de relacionamentos, o desejo de agradar as outras pessoas parece muito comigo na adolescência. A Lenu também serviu como inspiração para que eu voltasse a escrever.
9. A paixão segundo G.H. – Clarice Lispector (Rocco, 2020): Muitas pessoas acham esse livro difícil e complicado demais. Entretanto, eu gosto de fluxo de consciência – talvez, seja o estilo de narrativa que mais me agrade, justamente por sua subjetividade. Essa obra da Clarice me fez refletir sobre a “terceira perna” e assim, me sentir mais confiante em relação ao meu trabalho e às minhas habilidades. Foi a mola propulsora desse blog.
10. O inventário das coisas ausentes – Carola Saavedra (Cia das Letras, 2014): Por causa desse romance eu escrevi o meu primeiro ensaio depois de muitos anos sem escrever. O livro me fez refletir bastante sobre nós como pais e filhos, as nossas relações afetivas e o modo como vivemos as nossas vidas. O texto que escrevi inspirado nesse livro é um dos meus favoritos e por isso esse livro maravilhoso se tornou tão marcante na minha vida de leitora.