vida de leitor

Retrospectiva literária 2022 e favoritos do ano

Mais uma vez, vamos usar aquele velho e bom clichê de que nem parece que o ano acabou de tão rápido que passou. Acontece que à media em que envelhecemos, temos a impressão de que o tempo passa mais depressa, que os dias estão mais curtos e que não conseguimos mais fazer as coisas que fazíamos antes, no mesmo espaço de tempo. Essa visão subjetiva do tempo me lembra Proust, autor que venho lendo desde o ano passado, bem devagar para absorver a densidade de sua escrita e que já está aqui na minha mesa para começar o ano de 2023 comigo.

Pensando nisso, é impactante como as retrospectivas são importantes para a nossa percepção real daquilo que fizemos e conquistamos nos 365 dias vividos ao longo do último ano: o quanto produzimos, aprendemos, trabalhamos, choramos, sorrimos, vencemos os desafios, descumprimos nossas metas, flopamos nas nossas convicções. Mas também evoluímos, crescemos como seres humanos e fomos transformados pelas pessoas que conviveram conosco nesse período de tempo, pelas leituras, pelos filmes e séries consumidos ao longo do ano. Certamente não somos as mesmas pessoas de primeiro de janeiro de 2022: a pessoa que lê as metas feitas há um ano atrás pode até mesmo rir daquela pessoa que as escreveu lá no longínquo dezembro de 2021.

Nossa percepção de tempo também foi impactada pelo fim da pandemia de Covid e pela volta das atividades normais em 2022. Dessa forma, muitas coisas que fazíamos virtualmente, pudemos voltar a fazer de forma presencial, como os clubes do livro, idas às livrarias, Bienal, Festas Literárias, Sessões de autógrafos, cinema, teatro, shows, cafés…. Esses pequenos prazeres constituem o nosso dia a dia e ajudam a passar o tempo, e também a percebê-lo de uma outra forma. E talvez a volta à vida normal tenha me ajudado a cumprir mais as minhas metas de leituras ao longo do ano de 2022. Já comentei muito aqui o quanto eu me envolvi em leituras coletivas no período de isolamento social. Não só eu, mas muitos outros leitores vivenciaram a mesma experiência, que é válida, mas que muitas vezes nos deixa presos aos projetos dos outros, ignorando os nossos próprios interesses e abandonando as nossas metas pessoais.

Observando as minhas leituras de 2022, percebi que a maior parte delas foram das minhas metas pessoais, seguidas das 12 leituras do Clube Leia Latinos e de 10 indicações da Paloma Lima, talvez a influenciadora com a qual eu mais me identifico ultimamente. Seguindo essa perspectiva, os gêneros mais lidos foram os meus favoritos, romances de ficção, seguidos de contos e ensaios. Neste ano, li muitos livros de não-ficção em geral, incluindo aqui Grafic Novels, gênero que até o ano passado mal aparecia por aqui. Continuei fazendo a viagem pelo globo através dos livros, lendo 28 países diferentes, porém, predominam os escritores(as) brasileiros(as) mostrando o quanto eu prezo a nossa literatura e como ela vem se fortalecendo nas minhas preferências. Li 19 livros brasileiros, incluindo gêneros diferentes, como ensaios, jornalismo, romances clássicos e contemporâneos e poesia. Isso me deixou muito feliz. Os outros dois países mais lidos esse ano foram os Estados Unidos (não adianta, eu gosto de literatura norte-americana), com 17 livros lidos e da França, com 9 livros lidos do país.

Li 38 editoras diferentes em 2022. Esse é um número interessante porque acho que nem eu tinha noção da quantidade de editoras pequenas que existem no Brasil e elas se fizeram presentes por aqui. No entanto, a grande campeã continua sendo a Companhia das Letras com 30 livros lidos. Sendo este o maior grupo editorial do Brasil e pelo fato de publicar muitos autores que eu gosto e que leio com frequência, a Companhia das Letras é sempre a editora mais lida por mim. Porém, fui surpreendida pela quantidade de livros da Todavia que li esse ano, 9 livros. Esse número se justifica pelos dois clubes do livro que participei esse ano, o Leia Latinos e o Leia Mulheres Campinas. A Todavia publica muitos autores latinos e muitas autoras mulheres contemporâneas também, tendo um catálogo diferenciado e bem eclético. O terceiro lugar das editoras lidas ficou para a Alfaguara com 5 títulos. No caso, esse é um selo do Grupo Companhia das Letras também, e está aqui esse ano por causa dos três livros do Mário Vargas Llosa lidos em 2022, autor publicado pela Alfaguara. Eles também publicam muitos autores da América Latina, sendo presença constante no Leia Latinos.

No total, li 113 livros esse ano, incluindo aqui novelas, contos, textos curtos que ajudam a somar esse número alto. Muitos dos calhamaços de 2022 foram lidos no kindle, nos intervalos entre um cliente e outro da loja. Foram 75 livros físicos, 36 e-books e 2 áudio-books. Esses números provam que por mais que eu ame ler no kindle, os livros físicos ainda são os meus favoritos e dificilmente os abandonarei. Na verdade, tem livros que fluem melhor para mim na edição física, enquanto outros, eu prefiro realmente ler em e-books. Esse ano abandonei leituras também. Alguns livros que eu tinha muita vontade de ler, mostraram-se enfadonhos e chatos e por isso foram abandonados pela metade. Por outro lado, também li contos e novelas esparsos de coletâneas que ainda não finalizei, mas pretendo terminar as antologias em outro momento.

Já em relação aos autores mais lidos em 2022, estão o Dostoiévski com quatro livros, seguido do Amós Oz, autor que reencontrei este ano e que se consagrou como um dos meus escritores favoritos da vida e do Tolstói, que também se tornou uma obsessão para mim depois de ler sua biografia e os contos completos do autor. Outros dois escritores que li muito esse ano foram o Mario Vargas Llosa, que conheci em 2022 e gostei muito da sua escrita e dos temas abordados por ele em seus romances e ensaios e Stefan Zweig que marcou tanto o início do meu ano de leituras como também o final, consagrando-se aqui como um dos meus autores favoritos da vida. No geral, li 90 escritores(as) diferentes esse ano. Muitos pela primeira vez, outros que já tinha lido antes, alguns que não pretendo ler mais e alguns que encheram a minha lista de desejos e que serão explorados no próximo ano, como Érico Veríssimo, autor que até hoje tudo o que li dele, ganhou cinco estrelas.

Mais uma vez, li mais homens que mulheres: 66 autores e 46 autoras. Tentei equilibrar o número entre os gêneros para o desafio de 12 livros de 2023, com a intenção de ler mais mulheres. E, falando no desafio de 2022, li 11 dos 12 livros. O último ficou para o ano que vem. O que mais me chamou a atenção nessa meta foi que agora em dezembro eu ainda queria ler os livros escolhidos e isso é muito importante porque nos anos anteriores, muitos dos livros colocados no desafio já não me chamavam mais a atenção. Desses 11 livros, 5 se tornaram favoritos e 3 estão no Top 10. Apenas 2 desses livros receberam notas abaixo de 4 estrelas, o que mostra que estou cada vez mais sabendo o que vou ou não gostar de ler. Observando as minhas avaliações no Skoob, a média foi de 4,3 o que corrobora a análise de que as minhas escolhas estão mais certeiras.

Talvez esse conhecimento sobre minhas preferências literárias e as metas que coloquei para o próximo ano, me ajudem a cumprir uma das minhas resoluções de 2022 que não consegui cumprir como gostaria e que permanece para 2023, que é consumir os livros que tenho em casa e comprar menos títulos novos. Das cinco metas gerais, consegui cumprir três e as outras duas, infelizmente não. Mas isso não é motivo para desespero e nem algo para problematizar. São apenas constatações vagas que compartilhamos com outros leitores a fim de não nos sentirmos tão sozinhos em nossas idiossincrasias.

Confesso que esse foi o ano mais difícil para escolher os favoritos. Os critérios que usei aqui foram subjetivos: li muitos livros esteticamente impecáveis, mas que não me tocaram, ao passo em que alguns que pecam em estética, me ganharam pelas reflexões que me proporcionaram ao longo da leitura. Os nossos livros favoritos têm essa peculiaridade do subjetivismo e não adianta as pessoas criticarem nossas escolhas e tentarem colocar no nosso top 10 livros que elas queriam que estivessem lá, mas que para nós, não merecem esse lugar. É importante lembrarmos que cada livro é lido por um leitor diferente que traz consigo toda a sua bagagem de uma vida inteira de vivências, experiências intransferíveis e leituras prévias. O nosso conhecimento prévio da vida vai fatalmente influenciar nas nossas escolhas e nas reflexões que cada livro nos traz. Segue a minha lista, com todos os favoritos do ano em ordem de preferência. Mais uma vez reafirmo que não estou classificando-os esteticamente, mas subjetivamente. Para todos esses livros tem ou terá resenha aqui no site. Por isso, não vou colocar sinopse deles.

Favoritos 2022:

  1. Eneida – Virgílio (Editora 34, 2021);
  2. Contos completos – Liev Tolstói (Companhia das Letas, 2018);
  3. A casa da alegria – Edith Wharton (José Olympio, 2021);
  4. História da menina perdida – Elena Ferrante (Biblioteca Azul, 2017);
  5. Os miseráveis – Victor Hugo (Martin Claret, 2014):
  6. Autobiografia: o mundo de ontem – Stefan Zweig (Zahar, 2021);
  7. De amor e trevas – Amós Oz (Companhia das Letras, 2005);
  8. Middlemarch – George Eliot (Pedra Azul, 2022);
  9. Banzeiro Ókòtò – Eliane Brum (Companhia das Letras, 2021);
  10. Os Buddenbrook – Thomas Mann (Companhia das Letras, 2016);
  11. David Copperfield – Charles Dickens (Zahar, 2021);
  12. O idiota – Fiódor Dostoiévski (Penguim, 2022);
  13. Caderno proibido – Alba de Céspedes (Companhia das Letras, 2022);
  14. A insustentável leveza do ser – Milan Kundera (Companhia das Letras, 2008);
  15. O holocausto – Laurence Rees (Vestígio, 2020);
  16. Os europeus – Orlando Figes (Record, 2022);
  17. Os Mandarins – Simone de Beauvoir (Nova Fronteira, 2017).

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