vida de leitor

TAG 50% 2023

Eu nunca respondi verdadeiramente essa TAG aqui no site, porque acho que esse formato não se adequa à minha proposta de crítica, ensaios e listas temáticas. Porém, os tópicos apresentados nesse questionário são realmente um balanço das nossas leituras do primeiro semestre e nos ajudam muito nas escolhas que faremos até o final do ano. Penso que é sempre válido analisarmos as nossas leituras e verificarmos se realmente estamos seguindo nossa proposta inicial, refletirmos sobre as surpresas que apareceram no meio do caminho e acabam se tornando experiências excelentes e para onde vamos depois. Compartilhei também essas respostas de forma simplificada no Instagram e este post serve mais como uma justificativa das minhas escolhas. Dessa forma, vamos à TAG!

  1. O melhor livro que você leu no primeiro semestre: Não poderia escolher outro senão A República dos Sonhos, da brasileira Nélida Piñon, que se tornou o meu livro nacional favorito da vida. Essa obra é monumental e reúne tudo aquilo que me é caro na literatura: boa escrita, drama familiar, relacionamentos humanos e a cereja do bolo: um fundo histórico muito bem construído que nos ajuda a compreender muitas coisas da nossa própria história.
  2. A melhor continuação que você leu no primeiro semestre: Essa resposta também é bastante óbvia para quem me acompanha nas redes sociais e sabe da minha nova obsessão literária que é o Proust. Claro que a melhor continuação que li no primeiro semestre foi Em busca do tempo perdido, obra genial, que a cada volume cresce tanto em densidade quanto em qualidade e vai nos respondendo todas as questões propostas nos primeiros livros. A sagacidade do autor em falar sobre as fragilidades humanas, utilizando para tanto os eventos mais cotidianos, que se aproximam de muitos leitores e ao mesmo tempo colocar em cada um dos seus inúmeros personagens camadas de complexidade, abordando todos os principais acontecimentos do início do século XX, é algo impressionante e único. Realmente Em busca do tempo perdido foi um dos maiores romances já escritos pela humanidade.
  3. Algum lançamento do primeiro semestre que você ainda não leu mas quer muito ler: Para essa pergunta, eu teria inúmeras respostas. Porém, resolvi me ater a um livro que tenho vontade de ler há bastante tempo e que não entendi por que ainda não li, que é Suave é a noite do F. Scott Fitzgerald. Logo no comecinho do ano, a Penguim Companhia lançou uma edição desse clássico e eu fiquei ainda mais tentada em comprar a minha edição e começar a ler imediatamente. Não é nenhuma novidade por aqui o quanto eu gosto das obras do Fitzgerald e esse certamente é um de seus livros que mais tenho vontade de ler.
  4. O livro mais aguardado do segundo semestre: Fiquei sabendo ontem que a Companhia das Letras, através do selo Alfaguara vai lançar o livro Stalingrado do Vassili Grossman. Nunca li nada do autor, porém, sei que esse livro precede Vida e Destino, que é uma obra que certamente se tornará uma das minhas favoritas da vida, observando a reação das pessoas que acompanho lendo esse livro. Portanto, ler Stalingrado antes de Vida e Destino será incrível e não vejo a hora de ter a minha edição em mãos!
  5. O livro que mais te decepcionou no primeiro semestre: Para minha grande sorte, não tive muitas decepções literárias esse ano. É claro que, alguns livros sobre os quais eu guardava altas expectativas, não as atenderam e tudo bem. Porém, teve um que foi realmente frustrante eu ter detestado tanto, que é O manto da noite da Carola Saavedra. Há uns três anos, li outro livro dela, também para o Leia Mulheres Campinas e adorei. Por isso, eu esperava amar o seu mais novo romance e foi uma grande decepção. Na verdade, acho que não entendi nada sobre o livro. Li as resenhas das meninas que amaram a leitura, mas ainda assim, o livro não me cativou. Talvez por ser muito experimental, ou também por minha falta de conhecimento de mundo, mas o fato é que ele não funcionou nada para mim.
  6. O livro que mais te surpreendeu neste ano: Graças a Deus, tive muitas surpresas boas esse ano em relação aos livros. Mas, vou destacar um aqui, que eu comecei a ler preparada para não gostar dele. Já tinha visto muitas pessoas falando mal dessa obra, criticando tudo nela, e assim ele me foi uma grata surpresa. Estou falando sobre O amante de Lady Chaterlley do D. H. Lawrence. Temos no romance uma história de amor e traição, com direito a cenas picantes, mas esse romance fica em segundo plano quando observamos a contextualização feita pelo autor daquele momento na Inglaterra. O fundo histórico, cheio de críticas e denúncias aos abusos cometidos pelas indústrias sobre a classe trabalhadora, a guerra e suas consequências funestas e a formação dos abismos sociais no país dão ao romance uma grandeza que talvez não seja percebida pelos leitores mais desatentos.
  7. Novo autor favorito, que lançou seu primeiro livro esse ano ou que você conheceu neste ano: Essa resposta também não é uma novidade para ninguém e não poderia ser outra senão a Sigrid Nunez, autora norte-americana, que começou a ser publicada no Brasil pela Editora Instante e me conquistou no primeiro semestre. Escutei o áudiolivro de O amigo, obra onde a autora fala muito sobre luto, perdas e superação, entremeado a críticas ao mundo literário, que parece glamoroso e unido, mas é apenas uma fachada. Na sequência, li também seu outro romance publicado por aqui, O que você está enfrentando. Os temas caros à autora estão de volta neste livro, porém com outra abordagem. Ainda assim, ela mantém o seu tom crítico e irônico ao mostrar as nossas idiossincrasias, os fantasmas que carregamos dentro de nós e as lutas que mantemos com o nosso corpo, mente, espírito e transportamos para os outros. Espero ansiosamente por mais lançamentos da autora por aqui.
  8. Seu personagem literário favorito: Vou aproveitar essa questão para falar sobre uma das minhas melhores leituras de 2023 até o momento que foi À leste do Éden, do John Steinbeck. O personagem que mais gostei até agora foi o Samuel Hamilton, que me proporcionou diversas reflexões a partir das suas opiniões e atitudes diante da vida. Suas falas, sempre assertivas e focadas naquilo que desejava comunicar, serviram como aconselhamento não apenas para os personagens do romance como também para o leitor, que sabendo aproveitar suas observações, pode tirar proveito dos ensinamentos de Hamilton para a própria vida. À leste do Éden é um romance histórico, que mostra as transformações pelas quais os Estados Unidos passaram no início do século XX, traçando um paralelo entre o mito da criação do mundo a partir do Cristianismo e a nossa vida, pautada por ausências, frustrações e o nosso eterno desejo de ser aceito e amado pelas pessoas.
  9. Um livro que te fez chorar no primeiro semestre: Geralmente eu não choro ao ler livros. Costumo me emocionar mais com as produções audiovisuais que com as leituras. Mas, me sinto tocada com enredos sensíveis, ficando reflexiva durante a leitura e vivenciando um certo incômodo dependendo da narrativa. Não chorei lendo os dois livros que vou citar aqui, mas fiquei muito impressionada com as histórias que estão nessas obras. A primeira delas é uma autobiografia, portanto, os fatos são reais e eu tive muita empatia pelo autor e seus dramas, que para alguns podem parecer supérfluos e fúteis. Estou me referindo a Amigos, amores e aquela coisa terrível do Matthew Perry. Neste livro de memórias, ele se abre, contando a sua experiência com as drogas e o quanto elas o impediram de viver uma vida comum e aproveitar o seu sucesso como ator. O outro livro é de ficção e foi uma grata surpresa de 2023, O senhor presidente do escritor guatemalteco Miguel Ángel Astúrias. O romance trata sobre o período em que seu país foi dominado pela ditadura militar e todos os horrores que ela produziu. Sua narrativa é impecável, levando o leitor à empatia e compreensão do outro.
  10. Um livro que te deixou feliz no primeiro semestre: Para uma leitora de desgraceiras como eu, foi difícil encontrar um livro feliz na minha lista de leituras do ano. Mas, me lembrei do primeiro livro que li em 2023, que foi Linha M da Patti Smith. Neste livro encontramos textos da autora onde ela fala um pouco sobre a sua experiência com a viuvez, além de viagens, lembranças e muitas indicações de livros que ela amou. Patti também compartilha com o leitor as séries policiais que estava assistindo no momento, suas obsessões e manias, seus cafés prediletos, outros lugares que lhe são caros, além de sua rotina naquele ano que sucedeu à morte de seu marido. Livro espetacular e que nos faz sorrir durante a leitura e encher a nossa lista de desejos com as recomendações literárias dela.
  11. Melhor adaptação cinematográfica de um livro que você assistiu esse ano: Eu sou daquelas tolas que termina de ler um livro e vai procurar a adaptação cinematográfica para assistir. Em 99% das vezes, aponto uma porção de críticas aos filmes e séries baseados em livros, por que, mesmo sabendo que são mídias diferentes, sempre prefiro os livros por causa de seu aprofundamento maior na construção dos personagens e do enredo. Mas, no caso dos meus amados romances policiais, muitas vezes, os filmes e séries são fidedignos ao livro e se saem bem e foi o caso desse ano, em que assisti à adaptação de Assassinato no Expresso do Oriente após ler o livro e adorei os dois.
  12. Melhor resenha do primeiro semestre: Esse ano consegui escrever boas resenhas, considerando que sou muito crítica quanto àquilo que escrevo e busco sempre pesquisar bastante antes de fazer algum comentário de leitura, principalmente quando se trata de livros clássicos. Talvez a resenha que se sobressaia neste ano é a de As vinhas da ira, do John Steinbeck, onde pesquisei muito sobre os fatos históricos retratados pelo autor em seu livro e consegui expressar a minha admiração pelo seu trabalho tão cativante e necessário para que tenhamos empatia pelos outros, respeito e principalmente, que saibamos valorizar aquilo que temos e os nossos privilégios que são muitos.
  13. Livro mais bonito que você comprou ou ganhou esse ano: Desde o ano passado, eu estava de olho no romance da mexicana Elena Garro, As lembranças do porvir. Minhas amigas que fazem aula de conversação em espanhol com a Jéssica Mattos, leram esse livro no original e só falavam sobre ele. Assim nasceu em mim um desejo intrínseco de ler essa obra. Porém, ele é um pouco carinho e por isso, demorei para comprar, na esperança de uma promoção que nunca veio. O que aconteceu foi que o livro esgotou e se tornou uma raridade. Um dia, uma das meninas do Clube Cem Anos de Literatura passeando por uma livraria no Rio de Janeiro, achou o livro lá, mas na edição em capa dura. No dia seguinte, a querida Mônica foi lá e garantiu essa preciosidade para mim, que é um livro lindo, com uma capa muito sugestiva e que eu estou doida para ler.
  14. Quais livros você precisa ou quer muito ler ainda este ano: Vou citar alguns aqui que fazem parte de projetos de leitura dos quais estou participando, tais como Cem anos de solidão do Gabriel García Márquez, Campo Geral do Guimarães Rosa, Um defeito de cor da Ana Maria Gonçalves, Caminhos cruzados e Música ao longe do Érico Veríssimo, Contraponto do Aldos Huxley, Trilogia suja de Havana do Pedro Juan Gutiérrez, dentre outros. Quero também finalizar obras que já iniciei, porém, por algum motivo, parei a leitura, ou ainda estão em andamento, como Em busca do tempo perdido do Proust, De passagem da Nella Larsen, O Aleph do Borges, Sob a redoma do Stephen King, Foe do Coetzee, As benevolentes do Jonathan Littell e Angústia do Graciliano Ramos. Mas, o livro que não estava nas metas e que vai furar todas as filas, é Senhor Proust, da Celeste Albaret, que consegui por milagre em um sebo virtual e desde que chegou por aqui, estou com vontade de começar a ler imediatamente.

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