crítica

Três novelas femininas – Stefan Zweig

Nesta coletânea de novelas do autor, o crítico e estudioso Alberto Dinis reúne três mulheres inesquecíveis escritas por Zweig. Aqui, a porta de entrada é bem melhor que a coletânea anterior, 24 horas na vida de uma mulher e outras histórias, resenhada aqui anteriormente. A história que abre a antologia é Medo, que se tornou uma das minhas novelas favoritas da vida. Conhecemos Irene, uma mulher casada, mãe de dois filhos, bonita, rica e livre. Uma mulher moderna da estonteante Viena do início do século XX.

Logo no começo da história, ela é cercada por uma desconhecida ao sair da casa de seu amante. Essa mulher lhe acusa de traição e a partir de então ela se transforma no pesadelo de Irene. Acompanhamos essa perturbação que se estende por 14 dias destruir a paz da protagonista de forma contundente. A construção do enredo, dos personagens, os diálogos e a decadência psicológica, movida pelo medo de Irene é uma das coisas mais bem escritas que já li. Sim, estou me repetindo. Mas, lembrei-me, lendo essa novela do motivo pelo qual leio tanto: para encontrar no meio do caminho narrativas como esta, que me deixam embasbacada e maravilhada com o poder da Literatura.

A segunda personagem inesquecível escolhida por Dinis para esta coletânea é uma já conhecida nossa, aquela mulher desvairada que se apaixonou pelo vizinho escritor aos 13 anos de idade e o stalkeou por anos a fio. Carta de uma desconhecida é uma história marcante e incômoda, que ganha nova roupagem com a tradução feita por Adriana Lisboa. O texto escrito por Alberto Dinis ao final da novela também me ajudou a enxerga-la com outros olhos e a história cresceu para mim. Por esse motivo é importante verificar a tradução e os textos de apoio contidos nas edições que escolhemos para ler. Neste caso, se eu tivesse começado por essa edição da Zahar, certamente teria me encantado mais rápido pela prosa do autor.

Finalizando essa antologia, encontramos novamente a Sra. C., em suas 24 horas na vida de uma mulher. Através dessa edição, ficamos sabendo que essa era a novela escrita por Zweig favorita de seu amigo Freud. Ele observa o enredo psicológico criado pelo escritor e as nuances da alma de uma mulher, mostrando a fugacidade da vida e do destino. Como uma decisão pode mudar tudo. O mote dessa trama é uma das hóspedes do hotel, conhecida por sua moral ilibada e por sua postura correta que foge com um homem aparentemente desconhecido e abandona o marido ali mesmo, sem explicações.

Como já é de praxe, as pessoas começam a julgá-la, comparando-a com Madame Bovary, fazendo todas as conjecturas possíveis sobre o assunto sem ao menos pensar nos motivos que poderiam levar uma pessoa a agir assim. O nosso narrador é o único ali presente que resolve defender essa mulher e dizer que não a condena. Isso chama a atenção da Sra. C., que se sente confortável em se abrir com ele e desabafar o seu dia de quase fuga, que a incomoda mesmo depois de passados muitos anos.

Dessa forma, observamos que o autor é especialista em romances com enredos psicológicos, algo bastante comum na sua época. O mais interessante é o desenvolvimento dos personagens e o encadeamento das ações. A escrita de Zweig é muito bonita, sem ser exagerada. Ele consegue descrever ambientes e sentimentos de forma humana e sensível, transformando os lugares em personagens das histórias. Sem dúvidas, das três novelas contidas nessa coletânea, a minha favorita é Medo. Mas, ainda assim, gostei das escolhas de Dinis para esse livro.

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